Miguel Carvalho chegou esta época à formação do Vilaverdense FC para comandar a equipa de juniores. No entanto, a meio da época assumiu o comando da coordenação de todo o futebol de 11 da formação do clube. O treinador conversou com o Desportivo sobre a experiência no “Vila”, as dificuldades que encontrou e fez também um balanço da época interrompida, abruptamente, no mês de Março, devido ao Covid-19.
Que balanço faz da época?
Antes de responder à pergunta, quero deixar um agradecimento a três pessoas que durante a época estiverem sempre presentes e disponíveis para ajudar em toda a logística, o que fez com que eu só tivesse que me preocupar com o treino e o jogo. São os três directores que trabalharam comigo durante a época. Ao senhor Manuel, ao senhor Barros e à Dona Adelina o meu muito obrigado pela colaboração.
Agora respondendo à sua pergunta, o balanço é positivo. Ao longo da época houve muitos atletas que tiveram a oportunidade de treinar com os seniores. O Brandão e o Gonçalo chegaram até a ser convocados, este último até fez alguns minutos, esse era um dos objectivos propostos no início do ano. Para conseguir o objectivo principal, que era a manutenção na Divisão de Honra, as coisas estavam muito bem encaminhadas e mais duas ou três jornadas íamos matematicamente conseguir. Por esses dois motivos o balanço é positivo.
Foi uma época dentro do esperado ou era possível fazer melhor?
Sim, foi dentro do esperado ao nível de classificação. É claro que ficamos com a sensação que podíamos fazer mais pontos, pelo menos em dois jogos, mas também fomos ganhar a Esposende, que na altura estava em segundo, fizemos um grande jogo; empatamos com o Fafe e Moreirense fora, que são campos muito difíceis.
Quando o campeonato foi interrompido estávamos na 7.ª posição e tendo em conta tudo o que foi a época, principalmente na construção do plantel, penso que estávamos dentro das expectativas.
Quais as maiores dificuldades que encontrou?
A maior dificuldade foi na construção do plantel. Nas épocas anteriores, os seniores do Vilaverdense tinham como objectivo subir à II Liga e isso atraiu muitos jovens com qualidade e potencial para o clube. Mas, na época 20018/19, a equipa sénior acabou o Campeonato de Portugal em lugar de despromoção, a juntar a isso as equipas de juvenis e iniciados desceram da Divisão de Honra. Isso fez com que muitos atletas saíssem do clube e ficou mais difícil atrair jovens com potencial, ao contrário dos anos anteriores.
Para ter uma ideia comecei a pré-época com 9 jogadores! A sorte foi que tive a ajuda do Luís Pereira. Aproveito para lhe agradecer, porque foi ele que me convidou para treinar no Vilaverdense, e a ajuda que me deu na construção do plantel. Se não isso era impossível fazer um plantel competitivo para a Divisão de Honra.
- Esta divisão é muito competitiva
Quais as equipas mais difíceis que defrontou?
A Divisão de Honra em juniores é muita competitiva e todos os jogos são difíceis. Mas as equipas que tinham melhores valores individuais eram o Merelinense, o Fafe e o Moreirense.
Foi competitivo o campeonato?
Sim, foi um campeonato muito competitivo. A Divisão de Honra pela área geográfica que abrange, o distrito completo, consegue ter jovens com qualidade e potencial. E muitos treinadores jovens que trazem ao jogo uma complexidade e táctica muito interessante.
No plantel tinha jogadores que podiam integrar a equipa sénior?
Ao longo do ano, todos os atletas de último ano de formação tiveram a oportunidade de treinar com os seniores, e como eu já referi, dois chegaram a ser convocados. Mas penso que na próxima época podem fazer parte do plantel mais do que estes dois jogadores (Brandão e o Gonçalo), até porque o clube tem apostado nos jogadores da formação. Este ano tínhamos oito atletas da formação no plantel sénior e se aposta continuar penso que há potencial para mais atletas chegarem a esse patamar.
Qual era a interacção com a equipa técnica liderada por Hugo Santos?
Foi muito boa e proveito para deixar um abraço. Todas as semanas falávamos sobre quais os jogadores que podiam treinar com a equipa sénior, assim como a utilização deles no fim-de-semana. O Hugo é um treinador que se preocupa com a formação e dá oportunidade aos atletas jovens.
- Os treinadores colaboraram de uma forma ímpar
A meio da época passou também a coordenar o futebol 11. Como correu a experiência?
Sim, é verdade. A meio do ano o Luís Pereira foi para o Algarve dar aulas e com a saída do Nuno Barbosa, o Ilídio, Director da Entidade Formativa, convidou-me para assumir o cargo de coordenador técnico, a quem agradeço a oportunidade.
Foi uma experiência muito interessante. O clube é certificado como entidade formadora pela Federação Portuguesa de Futebol e isso implica a uma organização muito grande. Mas os treinadores colaboraram de uma forma ímpar e mostraram-se muito receptivos ao que lhes foi pedido,isso facilitou muito o trabalho.
Qual é o relacionamento com os pais?
O relacionamento com os pais foi pacífico, porque eles quando tinham algum problema dirigiam-se ao director da entidade formadora. Só quando eram questões técnicas é que os encaminhava para mim, mas como tínhamos tudo organizado e regras definidas tornava-se fácil o relacionamento.
Que opinião tem sobre a decisão da AF Braga em tornar os campeonatos nulos?
Quando a FP Futebol anulou os campeonatos de formação, onde há atletas já profissionais, a AF Braga só tinha que seguir o mesmo caminho.
Havia outra solução?
Penso que não. Se as escolas ainda estão fechadas e os alunos a ter aulas à distância, onde vivamos num país em estado de emergência, acho que seria impensável crianças e jovens continuarem a jogar futebol, um desporto onde o contacto é constante.
- A minha ambição é voltar a ser profissional de futebol
Pensa um dia passar para o futebol sénior?
Já trabalhei no futebol sénior, não como treinador principal. A minha ambição é voltar a ser profissional de futebol, seja na formação ou no futebol sénior. Mas não posso esconder que gostava de passar novamente pelo futebol sénior, mas depende sempre das condições e do projecto proposto.
Quem é o Miguel Carvalho. Conte-nos um pouco da sua história no futebol.
Comecei a treinar em 2009/2010, na escola de futebol do Manchester United, em Lisboa. Na época 2011/12, fui observador na equipa técnica do Atlético CP, na II Liga. Passei pelo Benfica (formação) e Escola de Futebol do Benfica, onde treinei vários escalões. Fui treinador adjunto nos seniores do Celeirós e do Limianos, no Campeonato de Portugal. Antes de treinar os juniores do Vilaverdense, fui director técnico do Melaka United, na Malásia