Sou da opinião que os campeonatos devem arrancar. Que deve haver competição, mas não agora. Estamos dia após dia a bater recordes de casos positivos do vírus, os telejornais não abrem com outro título de notícia há meses a fio e o número de vítimas mortais não param de aumentar.
A Pró-Nacional já teve vários jogos adiados. Na I Liga, também houve jogos adiados pelo mesmo motivo. A grande diferença, e é isso que parece que as pessoas se esquecem, é que esses jogadores são profissionais.
O profissionalismo não existe nas equipas da Pró-Nacional. Muito menos na Divisão de Honra e na I Divisão. Ou seja, os jogadores, treinadores e dirigentes deste nível não vivem exclusivamente do futebol.
Compreendo que hoje a AF Braga não seja apenas uma entidade que se limite a organizar e regular competições. Hoje a AF Braga é como uma empresa. Tem funcionários, que têm famílias para sustentar e que trabalham arduamente todos os anos para assegurar o funcionamento do futebol distrital. E para isso, obviamente que precisam de gerar receita, sendo que provavelmente estará na inscrição de equipas e jogadores a sua fonte de maior rendimento.
O S. Mamede D’Este, e ao contrário do que eventualmente se fez parecer, queria competir. A constituição das séries e o sorteio já se realizou, o nome do clube não consta no lote de equipas que vão participar, mas quis e continua a querer participar. Tanto assim é que se inscreveu oportunamente na AF Braga.
O clube, quando confrontado com a intransigência da AF Braga em adiar o início da prova, decidiu aquilo que é para mim, e por muito que nos custe, a decisão mais acertada, notificando a AF Braga que a manterem-se as datas de início de competição, que o S. Mamede D’Este não iria competir.
No dia do sorteio tínhamos a equipa praticamente pronta, com 20 atletas prontos a competir, e iriam entrar no plantel mais um ou dois jogadores já apalavrados. Estávamos prontos. Esta decisão do clube foi por isso um rude golpe para os nossos jogadores e igualmente para mim e para a minha equipa técnica.
Iríamos ficar na mesma série do ano passado (Série B). A sua constituição do ponto de vista desportivo agradava-nos imenso. Iríamos ter a possibilidade de competir com belíssimas equipas, recheadas de ambição e de jogadores e treinadores de qualidade.
Tudo aquilo que os meus jogadores precisam para crescer: competitividade. Destaco as equipas B do Maria da Fonte e Porto D’Ave, Emilianos, Merelim S. Paio, Pedralva, Gerês e Lanhas. E ainda outras belas equipas que iriam naturalmente aparecer a praticar bom futebol.
Mas estamos a falar de equipas de 4 ou 5 concelhos distintos. Se a medida imposta pelo governo para o fim-de-semana de Finados virar moda, como podem estes clubes competir, quando não podem sair do seu concelho?
Honestamente, espero e desejo que todos os campeonatos comecem e acabem sem grandes problemas. Gostava mesmo que o S. Mamede D’Este venha a ser acusado no futuro de ter sido demasiado cauteloso e que afinal havia condições para se jogar futebol distrital.
No entanto, é ainda muito cedo para se chegar a essa conclusão. O tempo dirá. Mas prefiro que o clube leve com esse rótulo do que o rótulo de irresponsáveis e de estarem a contribuir para o aumento de casos e propagação do vírus.
É certo que o vírus se apanha em qualquer situação, infelizmente. Mas ao contrário da realidade do futebol profissional, os jogadores do futebol distrital não vão ter a oportunidade de serem testados todas as semanas e com isso antecipar e eliminar cadeias de contágio, isolando os atletas positivos do grupo de trabalho.
Só havia uma forma de este arranque ser negociado de forma diferente com a AF Braga. Os clubes da Pró-Nacional e da Honra, pelo seu peso e historial é que poderiam fazer essa força.
Acabou apenas por ser o Águias da Graça e a Ribeira do Neiva a terem uma posição mais firme, além de outros clubes históricos como o Soarense e Maximinense. Mas no fundo, compreendo a posição dos demais clubes. Não querem perder o lugar que tanto lhes custou a conquistar, com todo o mérito e serem obrigados a cair para a última divisão no próximo ano, caso adotassem a mesma medida.
Faltou neste tema uma maior união dos clubes em torno de uma causa comum, porque estou certo de que todos querem competir e fazê-lo com as melhores condições possíveis.
A calendarização deveria por isso ser revista, na minha opinião. A Pró-Nacional com 24 equipas. A Divisão de honra com mais 36 equipas e da I Divisão com 54. Parece-me completamente desajustado. Deveria ser um arranque faseado. A competição da Divisão de Honra deveria começar mais tarde, em início de Dezembro, e após análise cuidada do primeiro mês de competição da Divisão de Honra. E a 1a divisão só no início do novo ano.
Se o problema era a obrigatoriedade de acabar a época antes do arranque do Europeu, a solução era simples no meu entendimento: mais séries. Mais uma série na divisão de Honra e mais duas na I Divisão.
Os clubes iam ter menos jogos, é certo. Mas com esta medida provavelmente iriamos ter o melhor dos dois mundos: campeonatos em curso e melhores condições para todos os intervenientes.
E por falar em condições, tenho conhecimento de que existem clubes a fazer a sua preparação em condições lamentáveis. Alguns desses clubes com enorme tradição nos campeonatos da AF Braga.
Colectividades com décadas de existência ao serviço do desporto distrital e que por imposição de regras do Covid-19, não têm nos campos de futebol que usufruem, de um balneário para que os seus atletas possam equipar-se ou tratar da sua higiene. Isto deveria ser motivo de enorme reflexão.
Desejo honestamente a revisão do quadro competitivo que está delineado. Mais vale uma decisão tardia, mas correcta, do que a manutenção de uma decisão que pode vir a ser tão penalizadora. Se não for possível, resta-me desejar as maiores felicidades e saúde a todos os intervenientes, que todos possam ter condições para lutar de igual para igual dentro do campo e que no final vença o melhor.
Óscar Gomes