Hugo Xavier conversou com o Desportivo sobre a sua primeira experiência como treinador e também deu a sua opinião de como a AF Braga deveria gerir esta situação das paragens dos campeonatos. O treinador do SP Arcos considera que não existem condições para voltar à competição e que por isso os «campeonatos deviam ser nulos».
Desportivo: Que balanço faz desta ainda curta experiência como treinador?
Hugo Xavier: Os 30 anos de futebol como jogador (12 como profissional) ajudaram-me e ajudam a que esta transição fosse rápida e a lidar com os problemas inerentes a esta função. A juntar a isto tenho a preciosa ajuda da equipa técnica (Ricky e André), bem como de grupo de jogadores/homens fantásticos que encontrei e também de toda a estrutura do clube que têm feito tudo para que as coisas corram bem.
«Tenho orgulho no trabalho do meu pai»
-Sempre esteve nas suas cogitações seguir as pisadas do seu pai?
Olho para trás e não me lembro da minha vida sem o futebol. Em casa sempre se falou de futebol, o futebol está no sangue! Estar ligado ao futebol é como estar vivo …sendo assim seguir as pisadas do meu pai era inevitável.
-Isso influenciou-o na sua decisão?
Desde tenra idade que acompanhei o meu pai. Primeiro como jogador e depois como treinador. É natural que a admiração e o orgulho que tenho por ele e pelo seu trabalho no futebol tenha-me levado a olhar para o cargo de treinador como um objectivo e como um passo natural na minha carreira.
-Que balanço faz da prestação da equipa do SP Arcos?
O balanço é muito positivo, isto apesar de não estarmos a conseguir materializar esta positividade no número de pontos amealhados. Desde a minha chegada que a o SP Arcos é uma equipa equilibrada, organizada, com princípios, muito agressiva (positivamente). É difícil qualquer equipa nos defrontar. Em todos os jogos conseguimos criar 5/6 oportunidades claras de golo e não marcamos. Esse tem sido o nosso problema. Recordo-me, por exemplo, do jogo em Vila Verde onde dominámos por completo o adversário, criámos 7 ocasiões claras para fazer golo. Acabámos por perder com um auto golo.
-Existe muita diferença para a Divisão de Honra?
Existem grandes diferenças entre as 3 divisões distritais, mas a Pró-Nacional é um campeonato completamente diferente dos outros dois. Não podemos esquecer que é a antiga III Divisão Nacional. A exigência é outra.
«Temos na Pró-Nacional árbitros muito competentes»
-Acha que está nivelado por cima ou por baixo?
A Pró-Nacional tem vindo a melhorar ano para ano. Tem sempre alguns clubes, que pelas condições e orçamentos lutam pela subida. As restantes equipas lutam pela manutenção.
Mas é um campeonato onde os jogadores e treinadores já trabalham a um nível muito bom. Gostava de deixar uma palavra também para os árbitros que têm acompanhado esta evolução, temos hoje na Pró-Nacional árbitros muito competentes.
«Rever as nossas prioridades»
-Como olha para este problema que estamos todos a atravessar?
É um momento delicado que nos apanhou todos de surpresa. Nesta fase temos apenas que nos resguardar e aprender e rever as nossas prioridades. Mesmo no plano desportivo, por vezes temos atitudes menos “elegantes” para com os árbitros ou adversários pois somos deixados levar pela emoção, pelo desejo desmedido da vitória como se esta fosse uma questão de vida ou de morte, e não é!
Adeptos, treinadores, jogadores, dirigentes e todos aqueles que fazem parte do mundo do desporto têm de pensar nisto.
-Como tem sido o seu dia-a-dia?
Neste momento estou sem sair de casa há 15 dias juntamente com a família. Estou atento às notícias e tenho feito alguma actividade física. Comer e beber um copo de vinho (de qualidade) também faz parte do dia-a-dia pois já dizia Platão: “Moderadamente bebido, o vinho é medicamento que rejuvenesce os velhos, cura os enfermos e enriquece os pobres”.
«Não estamos a trabalhar de maneira nenhuma»
-E a “preparação” do plantel?
Não sou um poeta, um lírico ou iluminado. Pura e simplesmente não estamos a trabalhar de maneira nenhuma, nem com planos de treinos individuais, nem através de vídeo-chamada, nem por telepatia desportiva.
-Tem estado em contacto com os jogadores? Que recomendações tem feito?
Tenho estado em contacto com os capitães. Os jogadores têm um grupo nas redes sociais onde vão dando notícias sobre o estado actual de cada um. O que lhes peço é para terem um pouco de cuidado com a alimentação para que o aumento do peso, que é inevitável, não seja extremo.
-Consegue deslumbrar um eventual regresso dos campeonatos?
Essa situação não me parece que vá acontecer esta época. Acredito que à imagem do que está a acontecer nos campeonatos não profissionais por toda a Europa, como por exemplo em Inglaterra, esta época será considerada nula. Os campeonatos de formação da AFB já seguiram esse exemplo e acredito que aconteça o mesmo com os campeonatos seniores.
«Nunca haveria verdade desportiva se isso acontecesse»
-Existem condições para voltar a competir?
Nem pensar, depois deste tempo de interregno e que ainda vai continuar, nunca haveria verdade desportiva se isso acontecesse. Repare que há várias equipas que ainda podem subir e outras que ainda podem se manter.
As equipas que estão acima da linha de água tem calendário dificílimo, ainda vão jogar com os candidatos à subida e outras, como é o nosso caso, que já jogamos com os seis primeiros classificados, vamos agora para uma série de jogos com os clubes que lutam connosco pela manutenção.
Então na sua opinião como devia gerir este problema a AF Braga?
Só há uma solução, considerar este campeonato nulo!