Trabalhar na formação tantos tantos anos levou-me a considerar algumas ideias nas quais deposito toda a minha fé. A principal é que devemos tratar o futebol de base com toda a sensibilidade, seriedade e o critério que este merece.
Para mim o futebol de formação não é incompatível com os resultados, desde que não invistamos em prioridades, ou seja, o ganhar ou perder deve estar relacionado com a melhoria do futebolista a todos os níveis. Se consegues que o jogador melhore a nível individual, isso permitirá que o grupo de jogadores que trabalham com ele melhore e, a longo prazo, melhorará o grupo, portanto, os resultados positivos chegarão sem que este seja objetivo principal.
Com isto quero focar um dos primeiros pontos a ser abordado, que é a importância do crescimento como jogador antes do resultado. É legítimo procurar bons resultados, para atingir metas, mas isso não pode estar acima do crescimento das crianças. O que importa é conseguir o crescimento das características do jogador de futebol (como defesa, guarda redes, ou procurar as características que melhor se adequam à sua forma de ser / jogar), sem esquecer, é claro, os resultados.
O essencial da base é que o futebolista adquira bases sólidas para estabelecer o seu processo de maturidade futebolístico-pessoal, o qual deve estar relacionado as melhorias, que lhe permitirão, pouco a pouco, sem queimar etapas, tornar-se jogador de futebol.
O treino tem que ser focado na obtenção de melhorias no jogador e não apenas no especto físico, ele tem que crescer em todas as áreas, ser capaz de interpretar o jogo, procurando as melhores soluções e decisões; melhorando a condição física, vital em muitas ocasiões.
Como treinadores devemos promover que o atleta pense por si mesmo, aprendendo com seus próprios erros e sendo capaz de os melhorar, tornando-se mais capaz, sabendo que é o melhor no aspeto individual, mas procurando equilíbrio com o resto do grupo.
A competição também tem seu próprio significado, competindo para colocar em prática o que foi aprendido, evoluir através da competição e adaptar-se gradualmente às situações reais que o futebol propõe.
Não podemos esquecer, apesar de tudo, que a competição está realmente presente na mente de todos. Mas como referi, às vezes, não podemos considerá-la como o alvo primordial. A competição deve ser encarada como uma maneira de aferir se as crianças entenderam o que foi ensinado e como uma maneira de lhes ensinar outros aspetos que ajudam no seu crescimento.
O resultado da competição, no final, tem que ser o menos importante. Se eles falharem e não vencerem o torneio, o que temos a dizer é que nada acontece, analise os erros com eles e use-os para que não os cometam novamente. Que eles entendam que a competição é necessária, mas que não é o foco principal.
De referir ainda que cada criança tem seu próprio ritmo de aquisição de aprendizagem, devemos respeitá-lo, adaptar e dar respostas diferentes de acordo com as necessidades que a heterogeneidade marca. Cada criança tem um mundo e nem todas evoluem ao mesmo ritmo e da mesma maneira. Não podemos esperar que todos sejam como Messi, que aos 18 anos já estará a triunfar.
Há crianças que, embora possamos pensar que elas não evoluem, talvez estejam captando melhor a mensagem e, no final, são elas que melhor sabem como capturá-la no campo. Cada um, além disso, é diferente, por isso devemos tentar realizar um treino em que possamos ensinar cada forma individual, mas mantendo o mesmo nível no grupo, para que todos beneficiem, tanto no aspeto individual como no grupal.
Vamos tornar o treino das crianças algo divertido, aproveitar o que eles estão a fazer, porque o tempo para se preocupar e sobrecarregar pelos resultados surgirá!
Formação e competição estão correlacionadas, sendo que a competição surge como uma consequência de uma boa formação.