José Miguel Costa, ou simplesmente Gel, chegou este ano ao Lomarense Ginásio Clube para treinar a equipa de juniores. O treinador, que passou pela formação do FC Amares, E. Figueiredo e Vilaverdense FC, faz um balanço positivo da época e diz que a equipa «estava pronta» para atacar a subida de divisão no último terço do campeonato. Sobre a reestruturação dos campeonatos que permitiu a subida de muitas equipas, Gel diz que foi «a forma mais simpática de haver menos contestação e mais fácil, mas injusta».
Como foi a adaptação ao novo clube?
Fui muito bem recebido, tanto pela coordenação como pela Direcção. Encontrei um grupo de trabalho que também me recebeu muito bem e, acima de tudo, percebeu a mensagem. Quando assim é as coisas tornam-se mais fáceis para trabalhar
Gostou das condições de trabalho?
As realidades dos clubes da nossa região são muito idênticas. Tirando o SC Braga, que está num patamar incomparável, todos têm algumas limitações a nível de espaços de treino. Nesse aspecto, o clube teve sempre a preocupação em agilizar o melhor para as equipas e proporcionar espaços de treino maiores, pese embora, no nosso caso, os treinos serem realizados muito em espaços reduzidos, pois é essa a nossa forma de trabalhar. O clube distingue-se de forma muito positiva no que diz respeito à parte da rouparia e hoje em dia os miúdos valorizam muito isso.
Que avaliação faz da equipa no campeonato?
É muito positiva. Fomos crescendo a cada treino e a cada jogo. Criamos um espírito de grupo bastante forte o que se foi notando na própria evolução do grupo e nas dinâmicas criadas em algumas actividades que fomos fazendo ao longo da época. Atendendo a que a equipa técnica era nova, com novas ideias, novos métodos e também ao facto da equipa ser constituída por quatro atletas que ainda eram juvenis, apresentamos um bom nível de jogo e com intensidade. Nesse sentido o balanço é positivo.
- Estávamos muito dentro do que perspectivámos
Foi dentro do perspectivado ou ficou aquém das expectativas?
Após a segunda e terceira semana de treinos, com os jogos de pré-época que fomos realizando, começamos a ter uma noção maior do potencial da equipa, das suas lacunas e daquilo que tínhamos de melhorar. Conversámos internamente colocando a fasquia da subida de divisão como objectivo.
No meu ponto de vista, estávamos muito dentro desse objectivo, íamos receber os adversários directos em casa, onde tínhamos tido um desempenho quase irrepreensível, tendo averbado apenas uma derrota num jogo atípico contra o Tadim.
Sentia a equipa muito focada e consciente do que tínhamos de fazer para conseguir o objectivo. Por isso, e apesar de não ter havido o termino do campeonato, penso que estávamos muito dentro do que perspectivámos internamente.
O campeonato foi competitivo?
Foi a primeira vez que treinei o escalão de juniores e sinceramente achei o campeonato muito competitivo. As equipas estão bem organizadas e, acima de tudo, fortes fisicamente. São equipas com qualidade para estar na divisão de honra.
E quais as melhores equipas que defrontou?
O Dumiense apresentou um esquema táctico que nos causou dificuldades. Era uma equipa bem trabalhada e com alguns pormenores interessantes na sua dinâmica. No entanto, a classificação fala por si. O Celeiros tinha uma equipa que era intensa e bastante pragmática. Apesar de lhes termos ganho foi a equipa mais forte. Depois, o FC Amares e o Tadim, não pelo seu todo, mas por algumas individualidades que faziam a diferença. Digamos que eram as equipas do topo da tabela classificativa.
- Não me parece de todo justo
Que opinião tem sobre a reestruturação dos campeonatos da Formação?
Essa pergunta terá várias interpretações, várias opiniões e jamais será consensual. Na minha perspectiva, foi a forma mais simpática de haver menos contestação e digamos mais fácil, mas injusta e, acima de tudo, estranha tendo em conta os dois comunicados feitos pela AF Braga. Voltar atrás? No meu entender é algo surpreendente, até porque estar a premiar equipas quando faltavam disputar 24 pontos não me parece de todo justo.
No caso da nossa série, tirando o Celeiros, que está destacado e de forma meritória no primeiro lugar, haviam quatro ou cinco equipas na luta pela subida de divisão, com um e dois pontos de diferença, faltando disputar vários jogos entre elas e com imensas probabilidades de perca de pontos.
Acima de tudo, há algo que me preocupa que é o fato de os atletas terem perdido o último terço do campeonato. Muitos deles são de segundo ano, não sendo mais que os outros, são os que mais me preocupam, pois não tiveram oportunidade de se mostrarem na última fase da prova, onde várias equipas acompanham jogos da formação e assim terem a oportunidade de integrar mais facilmente numa equipa sénior para a próxima época.
Algumas pessoas poderão achar isto descabido, mas não sei até que ponto não seria benéfico o alargamento das idades nos escalões de formação tendo em conta o que, infelizmente, aconteceu e afectou tantos jovens. Tendo em conta esta reestruturação porque não pensar na reestruturação dos escalões também?
Resta-me dar os parabéns a quem subiu de divisão.
- Com saudados do treino e do jogo
Como reagiu o grupo a esta situação?
O grupo inicialmente estava super motivado, pois avizinhava-se uma fase decisiva da época e acreditavam que isto iria passar rapidamente. Por isso, fomos elaborando planos de treino, desafios, com a ajuda de dois amigos personal trainers, fazendo algumas vídeo-chamadas para manter o foco, para continuarmos com os laços bem presentes, tendo inclusive feito um vídeo com uma mensagem de esperança em relação ao Covid-19.
No entanto, infelizmente com o passar do tempo fomos desacreditando. A equipa técnica conversou com os atletas e passamos mensagem ao grupo que com a decisão do termino do campeonato não nos sentíamos com legitimidade para exigir mais nada, tendo-lhes sido recomendado apenas que não deixassem a actividade física tendo em conta a próxima época e a saúde deles.
Como tem sido este tempos de pandemia?
Tem sido como a generalidade da população, muito tempo foi passado a trabalhar, outro em casa, aproveitar para assistir a algumas tertúlias relacionadas com o futebol, ler livros, ver vídeos, mas acima de tudo, com saudade do treino, do jogo, da adrenalina e de dar umas duras aos meus atletas.