Opinião de Jorge Silva
A vida de um treinador não é propriamente fácil e nem sempre é valorizada.
Se é verdade que um treinador vive de resultados, não é menos verdade que os mesmos têm vários aspetos a serem analisados.
É demasiado fácil atirar as culpas para cima do treinador sem se verificarem e se avaliar outros fatores como a qualidade do plantel, calendário, investimentos, vertente financeira e consolidação do projeto.
Nesta época, já existiram mudanças de 10 treinadores. Em alguns casos pode ser por erro de casting, mas, na maioria das vezes, é por falta de tempo para o treinador implementar as suas ideias, os seus métodos e a equipa se adaptar.
Se em alguns casos a chicotada psicológica resulta, na maioria não é benéfica.
Um treinador e uma equipa precisam de tempo para trabalharem e consolidarem ideias, estratégias e, mais importante que isso, consolidar a base de um projeto.
Em Portugal há uma cultura do facilitismo no que ao despedimento do treinador diz respeito. Temos vários exemplos em que um determinado treinador não teve sucesso num determinado projeto, mas, noutros projetos, demonstrou capacidades que lhe permitiram que o mesmo obtivesse sucesso.
Na maioria dos clubes exige-se que um treinador faça uma espécie de omeletes sem ovos. Ou seja, que o mesmo consiga obter resultados sem ter matéria de base que lhe permita trilhar um caminho que leve a equipa ao sucesso.
Importa salientar que é fundamental que aliado a uma boa estrutura técnica, esteja uma estrutura humana e diretiva que comunguem das mesmas ideias e dos mesmos objetivos que a pessoa eleita para liderar uma equipa.
Em muitos clubes não existem bases estruturais sólidas onde se verifique uma linha estratégia e um rumo que leve o projeto a consolidar-se a curto e médio prazo. Não existe uma estratégia clara para que haja uma comunhão de ideias.
Outro ponto fundamental é o trabalho a nível de comunicação interna e externa.
Aposta-se muito pouco na formação a nível de comunicação e, por vezes, quem lidera esquece-se que tão ou mais importante que o conhecimento técnico e tático, a comunicação é peça fundamental para se passar uma mensagem e unificar a estrutura, a equipa e a massa adepta.
Os clubes devem procurar a promoção de formação e de investimentos para que se consiga criar desde as bases ferramentas de trabalho que possam dar fruto a curto e médio prazo.
Investir em bases sólidas permitirá que aqueles que venham a liderar o projeto consigam entender a linha condutora e que, se assim entenderem, possam fazer alterações sem se desviar do rumo, mas que leve a uma frescura e melhoria do projeto e da estratégia que se delinear.
Mais do que mudar com facilidade treinadores, é fundamental trabalhar nos pilares que possam nortear o projeto para a rota de sucesso.
É preciso, acima de tudo, melhor formação e mudar mentalidades.