É o dia a dia da minha atividade no futebol que me vai criando Inúmeras questões, problemas e consequentemente obriga-me a dar respostas.
Talvez se contem pelos dedos das mãos os que olham para o treinador de futebol de formação como um dos mais “ricos” ativos de qualquer projeto de formação. Claro está que não basta olhar e dizer boas palavras, é necessário ir muito mais além na defesa destes mesmos recursos, pois são eles os operacionais de todo um processo complexo.
Defendo que os melhores treinadores devem estar na base dos clubes, a trabalhar com aqueles que poderão ser os futuros jogadores dos planteis seniores. Esses treinadores devem ser os que têm mais conhecimentos e experiência, porque é nas idades mais baixas que os jogadores aprendem melhor os conhecimentos que vão ser importantes para o futuro.
Se a escolha do treinador dos seniores não tiver em conta a filosofia do clube e não respeitar o que se faz na base do clube, todo o trabalho de muitos anos de formação de um jogador pode ser completamente ignorado e deitado ao lixo.
Geralmente, muitos destes treinadores utilizam estes escalões de formação para ganhar e para dar nas vistas para que alguém os convide para as equipas seniores. Porque os treinadores da base raramente são reconhecidos pelo seu trabalho, são mal remunerados e, normalmente, têm de resolver todo o tipo de situações com os pais e familiares dos jovens.
Faça o que fizer, o treinador de formação é quase sempre criticado. Porque os pais entendem que os filhos são os melhores e não jogam tanto como os outros, porque entendem que o treino não é o adequado, porque viram na TV um treino de uma equipa sénior e não era nada daquilo que eles faziam, porque o treinador não fala ou grita muito durante os jogos, entre muitas mais observações. No entanto, a principal critica é de não ganhar jogos.
Há uns treinadores melhores do que outros. Uns com verdadeiro espírito de formadores e outros mais focados nos resultados. Todos eles têm valor. Não podem ser todos formadores. Mas quem trabalha na formação deve deixar os êxitos e as vitorias imediatas para trás. Em vez de se pensar apenas em vencer, o pensamento devia ser como vencer.
Um treinador de base trabalha para o futuro do clube dos jovens jogadores e da comunidade. É muito mais do que apenas um treinador. É um educador. E deverá retirar satisfação pessoal por esse processo.
Pelo meu pensamento acima descrito, sou dos que defendo que muita coisa deve mudar ao nível dos treinadores de formação, começando por lhes dar subvenções condignas e não “desprestigiantes”. Dar-lhes formação, nem que seja com apoio financeiro à realização da mesma; enquadrar os seus compromissos com os projectos que assumem através de um modelo de inscrição similar aos dos atletas, com ligações de no mínimo uma época desportiva, dotá-los de ferramentas de trabalho; exigir deles rigor como formadores e nunca como vencedores, entre outras coisas.
O factor X nos treinadores de formação é a capacidade de transmitir conhecimentos com a finalidade que eles sejam aquilo que podem ser e não aquilo que nós queremos que eles sejam.
Se mantivermos o modelo de treinador de formação similar ao de futebol sénior então tudo isto de futebol de formação será eternamente uma utopia crónica.