Nos últimos seis anos de exercício de funções como gestor de processos de formação de futebol, adquiri muitas experiências, as quais me levam a concluir que é um “mito” afirmar que os clubes é que deviam sustentar as necessidades financeiras que a formação acarreta.
Por seu turno, nos últimos cinco meses, ao percorrer o país do Alto Minho ao Algarve, passando pelo Porto e Lisboa, conhecendo a realidade de mais de 40 clubes de futebol não tenho dúvidas, nós os encarregados de educação temos que financiar a formação dos nossos filhos enquanto praticantes de futebol de formação, salvo uma ou outra exceção.
Cobrar uma taxa mensal aos atletas da formação, pedir que adquiram equipamentos ou solicitar que sejam os pais ou familiares a transportar os filhos para jogos e treinos são já práticas comuns em vários clubes de todo o país.
Vou ouvindo inúmeras críticas por muitos que acreditam que este é um serviço que não deveria ser pago, sobretudo porque as autarquias dão aos clubes um subsídio precisamente para apoiar os diferentes escalões.
O tema não é consensual e causa sempre alguma discussão e diferentes pontos de vista. Os clubes, declaradamente pelas experiências que vivenciei cobram uma taxa, pois só com os apoios das respetivas autarquias não são autossuficientes para fazer face às despesas (ainda para mais os clubes com equipas seniores absorvem algum desse apoio).
Porém há quem defenda que o atleta não deve pagar, não escondem que as contas são muitas mas, tentam arranjar outras fontes de financiamento para não terem que cobrar aos atletas.
Os pais e tutores dividem-se entre os que apontam o dedo aos clubes e os que compreendem a situação e querem, sobretudo, ver os filhos felizes. Já as autarquias defendem que os clubes têm que saber gerir as suas finanças e que não podem, nem conseguem, custear os gastos dos clubes a 100 por cento. Os atletas, esses, só querem mesmo é jogar.
Devido aos gastos dos clubes com taxas de jogos, inscrições, material de treino e jogo, despesas federativas, treinadores, coordenadores, profissionais de saúde, matéria médico, transportes, seguros, e muitas outras situações inerentes à prática desportiva, a questão financeira é uma das grandes razões que leva os clubes a ter que arranjar dinheiro para pagar as despesas.
Dos 40 clubes que conheço, posso afirmar que em inúmeros casos, os subsídios dos municípios são insuficientes e dão apenas para 30 ou 50 ou 70 por cento das despesas finais.
Nos clubes do grande Porto, Gaia, Matosinhos e Lisboa, por exemplo, os subsídios das autarquias apenas cobrem menos de metade da despesa. O restante é suportado pelos apoios dos patrocinadores, mensalidades dos atletas de formação, quotas dos sócios.
A título de exemplo, nas zonas referidas as mensalidades andam em média dos 30€ a 50€, transversais de petizes a juniores. Esta realidade contrabalança com a realidade da nossa região (Minho), onde em média os clubes não cobram mensalidades em juvenis e juniores e aos que cobram fazem-no com uma média de valores de 10€ a 25€, traduzindo-se evidentemente depois na qualidade dos serviços prestados ao nível de recursos humanos, transportes, medicina desportiva e outras.
Os pais são peça fundamental, seja ao contribuírem financeiramente, seja pelo transporte dos atletas, ou apenas pelo apoio nos dias dos jogos.
“Dinheiro precisa-se!” e quer se queira quer não se queira, a qualidade dos serviços paga-se e os pais continuarão, e cada vez mais, a ser chamados a este contributo independentemente de ter filhos com 6 anos ou 18 anos.