Jogos “com mala” e sem ética no futebol Infanto-Juvenil

Quanto mais elevados forem os padrões éticos de uma sociedade, ou mesmo dentro de uma organização, menor apetência à fraude terão os seus cidadãos, ou colaboradores, respetivamente. Na minha mais simples definição de ética posso considerar que seja mais ou menos consensual defini-la como um conjunto de princípios, regras e comportamentos, geralmente aceites numa sociedade como corretos e, cujo cumprimento, constitui uma conduta ética por parte de um indivíduo.

Não obstante, cada sociedade visualiza as questões da ética de uma forma diferente, e o que eu possa considerar ético, outros podem fazer considerações e avaliações distintas. Ainda assim, e mesmo quando possuímos uma compreensão razoável das definições de ética e de conduta ética, a sua aplicação é igualmente complexa.

Será que neste caso estamos perante uma contradição? Acho que sim, nem todos pensamos da mesma forma, nem todos temos as mesmas abordagens no sentido de preservar os valores éticos com a base fundamental no futebol de formação.

No meu livro – “Face Oculta do Futebol de Formação” – contarei histórias reais sobre resultados combinados nos escalões de Infantis, entre as quais ofertas de dinheiro para contrariar resultados desportivos, propostas de rotatividade de equipas, trocas de equipas entre quadros competitivos para não haver descidas, contactos prévios a juízes de partida e muito mais.

A forma como uma boa parte dos agentes ligados ao futebol olha para o futebol de formação é caraterizando-o como o futebol profissional.  Engane-se quem pensar que assim não é. Valem muito as selfies dos adultos nas páginas sociais, enche egos, promove pessoas, funciona como autênticas ações de merchandising no recrutamento de atletas. Há efetivamente muito boa gente no futebol de formação que não se revê nestes comportamentos atentatórios aos valores de ética, porém também existe o inverso.

Só em jeito de nota, eu próprio já fui aliciado com 200 euros por um agente desportivo para vencer um jogo para que esse grupo de crianças de 12 e 13 pudesse vencer um campeonato, operando em contrabalanço com o que alegadamente já lhe haviam feito.

Por fim, resta uma pergunta. Assumindo que todos concordámos na importância de uma generalizada conduta ética na sociedade, quem é o responsável pela sua promoção?

A resposta a esta questão é simples… todos nós.

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