«Gosto de entrar naquele balneário e de ver “malta” toda a rir, de jogar aquelas cartas antes dos jogos, daquela pelada de segunda-feira em que ninguém gostava de perder»

Nelson, 26 anos, está a cumprir a sexta época com a camisola do Brito SC ao peito. O avançado não tem boas recordações desta época, pois uma lesão no quarto metacarpo levou-o ao bloco operatório o que o afastou dos relvados por um longo período de tempo. Agora, que estava a regressar o campeonato foi dado por terminado devido ao Covid-19. O jogador considera que a decisão da FP Futebol foi precipitada e diz que tanto o Brito como o Vilaverdense ainda podiam chegar ao título.  

 

Desportivo: Como é que os jogadores, e no seu caso em particular, estão a ligar com esta pandemia?
Nelson: O grupo numa primeira fase recebeu uns pequenos exercícios para fazer em casa visto que pensávamos que está pandemia nunca chegaria a esta situação. Com o alongar dos dias, e visto que as coisas estavam a melhorar, a equipa técnica em conjunto com o plantel começou a fazer uns treinos virtuais. Os jogadores, a partir de casa, em simultâneo com a equipa técnica faziam os treinos três vezes por semana. Isto era a nossa forma de treinar nas últimas semanas.

Vai ser uma longa paragem. Isso pode prejudicar a próxima época?
Sem dúvida que poderá prejudicar a próxima época porque tanto os jogadores como os clubes neste momento ainda não sabem como terminará está época. A próxima época poderá começar ainda mais tarde e o tempo de paragem poderá ser ainda maior. Por muito que uma pessoa treine em casa durante estes meses todos não é a mesma coisa do que parar um mês e meio, como nas épocas anteriores.

Acha que o futebol distrital não voltará a ser o mesmo?
Na minha opinião o futebol distrital será sempre o mesmo, os jogadores serão os mesmos, porque gostamos mesmo disto, mas por outro lado acredito que algumas equipas vão sofrer algumas reformulações por tudo o que estamos a atravessar neste momento.

  • «Foi uma decisão muito precipitada»

Concorda com a decisão da FP Futebol e seguida pela AF Braga. Ou pensa que haveria outra solução?
Não sou contra, nem a favor, simplesmente acho que foi uma decisão muito precipitada. Concordava com a decisão se o futebol profissional também desse por terminado os seus campeonatos, visto que são esses mesmos campeonatos profissionais que ditam as subidas e descidas até ao nosso patamar. Mas o mais importante neste momento será sair desta pandemia e depois pensar no futuro.

Preferia ter terminado a época?
Claro que sim. Eu e todos os meus colegas. Todos nós gostamos de jogar futebol e daquele joguinho ao fim-de-semana, mas também tenho a perfeita noção que neste momento não é possível terminar a época.

Acha que o Brito ainda podia chegar ao 1.º lugar?
E porque não pensar que sim? Eram apenas quatro pontos de diferença e todos sabemos que neste campeonato tudo e possível. Até o próprio Vilaverdense podia lá chegar. Na próxima jornada iria defrontar o Pevidém e se ganhasse o campeonato ficava relançado.

  • «Estávamos a fazer uma época positiva»

Que balanço faz do campeonato a nível colectivo?
O objectivo para esta época era andar nos cinco primeiros lugares, por isso estávamos dentro do que tinha perspectivado. Sabíamos que já não dependíamos apenas de nós para chegar o título, mas ainda faltavam algumas jornadas e tudo poderia acontecer. Por isso, posso afirmar que até ao momento estava a ser uma época positiva até porque ainda estávamos a disputar a Taça da AF Braga e dos clubes que estavam no topo da classificação eram-nos os únicos.

E individual?
A nível individual estava a correr bem até no início de Janeiro quando parti o quarto metacarpo e tive de fazer uma cirurgia, que me afastou dos treinos e jogos por muito tempo. Agora que iria regressar o campeonato parou.

O campeonato foi competitivo? Nivelado por cima ou por baixo?
O campeonato foi competitivo, basta olhar para a tabela e perceber que nada estava definido. Apesar de estar competitivo acho que a diferença entre as equipas de cima e as que lutam pela manutenção é maior em relação a anos anteriores. Mas posso dizer também que nenhum jogo era fácil e muitas equipas do topo da tabela perdiam pontos com as equipas do fundo.

  • «Sinto muito a falta de futebol» 

Está a ser difícil viver sem futebol?
Sim, muito e logo eu que gosto tanto de futebol. Gosto de entrar naquele balneário às 19h00 e sair às 21h00, ver a “malta” toda a rir, de ouvir música e jogar aquelas cartas antes dos jogos, daqueles convívios que a “malta” faz a meio da semana, daquela pelada de segunda-feira em que ninguém gostava de perder. Se em Maio, quando acabava a época, só queria que chegasse a Julho. Agora imagine este tempo todo à espera. Mas temos de compreende e por muito que custe sabemos que neste momento o que todos queremos, independentemente do clube que representamos, é combater esta pandemia. Um abraço para todos e na próxima época cá estaremos para fazer aquilo que mais gostamos, que é jogar futebol.