Golear é respeitar

Terminou ontem mais um fim de semana de futebol infantil, aqui pelos nossos lados do distrito de Braga, e o que mais me chamou a atenção foi a continuação das goleadas incompreensíveis. Há mais de uma década que oiço, dos mais variados quadrantes, a preocupação por estes acontecimentos e as consequências nefastas que trazem tanto a quem é goleado como a quem goleia, porém pouco ou mesmo nada tem sido feito nesta matéria.

A título de exemplo, registo as vitórias do Cávado FC diante o Clube Futebol os Ceramistas por 28-0 e do SC Braga por 27 -0 ao AEF Nogueirense, a contar para o campeonato Distrital de Infantis de futebol de 7. E muitos outros poderia aqui fazer registo. A meu ver, no futebol, é preciso respeitar o adversário e não humilhar.

É urgente intervir sobre estas matérias e, definitivamente, fazer com coragem, sob pena de estarmos a fazer mal a estas crianças indefesas. Apelo assim aos organizadores dos quadros competitivos, ou mesmo aos treinadores envolvidos neste tipo de jogos que imponham condicionantes ao jogo, que apliquem com coragem adversidades; sejam criativos e deixem de contribuir para os “títulos pomposos” de rede social, autopromoção e fortalecimento de egos.

Por terras de “Nuestros Hermanos”, pelos lados de Valência, em Benjamins o CD Serranos, um clube dessa localidade ganhou do Benicalap C, por 25 -0. Este placar entre crianças de 10 e 11 anos foi o fim para o técnico vencedor, demitido pela direção, que não gostou daquilo que entendeu como uma humilhação: “Nós estimulámos o respeito ao adversário. Foi uma decisão consensual. Depois do alvoroço pelo resultado, entendemos que o treinador deveria deixar seu cargo”, explica Pablo Alcaide, um dos responsáveis pelas categorias de base do CD Serrano. “Ele não soube lidar bem com a situação”, diz.

Claro está que esta minha opinião não será consensual, porém, no mínimo, é imperioso lançar a discussão sobre o assunto debatendo o que é que pode ser feito quando existem tantas diferenças entre equipas em idade de formação?

Aqui no nosso distrito, a Associação local prevê na próxima temporada a reestruturação dos quadros competitivos, esperando que, de uma vez por todas, essa coragem aconteça pois já peca por tardia.

Mas, no meu ponto de vista, podemos ir mais além sendo que os próprios clubes podem e devem criar mecanismos para atenuar este tipo de efeitos nestas categorias. Há equipas por cá, que num campeonato sofrem mais de 300 golos, em apenas 24 jogos.

Em Espanha, a preocupação por essas goleadas exageradas existe e cada vez mais se tomam medidas para atenuar o problema.

O Athletic Bilbao propôs recentemente que no momento em que uma das equipas supere os dez golos de diferença, os seguintes não apareçam no placar, nem publicam os autores dos golos. A Real Sociedade também não publica os placares escandalosos. O departamento de comunicação decidiu não informar sobre os resultados superiores a dez golos.

O Barcelona age da mesma forma: se existe muita diferença, a partir de dez golos deixam de colocar o resultado no placar, ainda que depois apareça na ficha de jogo.

Promovem alterações para que o resultado não aumente demais, como, por exemplo, experimentando os jogadores em outras posições, impor remates apenas com “pé fraco”; obrigando a dar mais passes evitando o jogo individual e etc.ª. Respeitar é tomar medidas sobre esta matéria, de igual modo, ignorar é fazer mal às crianças!

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