Esta semana quero partilhar com todos seguidores do Desportivo a realidade do futebol de formação da China, que se apresenta, em minha opinião como um mercado emergente para jovens treinadores de futebol portugueses.
As realidades que partilharei, surgem de um jovem treinador de futebol, actualmente Director Técnico do Quarteirense, no Algarve, que após passagens pelos quadros técnicos do SC Portugal, rumou à China rumo à concretização de sonhos e consolidação de oportunidades. Estive à conversa com o Professor Sérgio Lourenço, o qual me falou sobre a sua experiência.
“Em 2013 (mais ou menos) o Governo Chinês decidiu que queria ser uma potencia do futebol mundial. Para concretizar este desafio deu de imediato o pontapé de saída. Fazendo um forte investimento no Futebol.
Entre as mais variadas medidas equipou todas as escolas públicas com campos sintéticos com dimensões de futebol 7. Deu apoios financeiros às entidades para abrirem Academias, bem como financiamento adicional para construção de campos de Futebol 7 e 11 de relva natural e sintéticos e respectivas estruturas de apoio aos mesmos. Facilitou a entrada de recursos humanos qualificados para as academias, designadamente a treinadores oriundos de Portugal, Espanha e Inglaterra.
Até 2013 o panorama do futebol de formação na China apenas apresentava competição para juniores e seniores, desde então, após a abertura das academias começaram a existir torneios entre academias e inter-academias em 8 cidades daquele país asiático. Os projectos passaram também por apostar na selecção, dos melhores.
Para o efeito nas academias albergaram crianças e jovens de vários níveis de competências. Foi criado um organismo constituído exclusivamente por recursos humanos chineses (Shanghai SchoolFoorballLeague), os quais iam às escolas fazer o recrutamento dos melhores atletas. Segue-se o convite para integrar uma única escola, a qual oferecia condições para treinos bi-diarios (idades dos 10 aos 14 anos).
Treinam de manhã (muito cedo), seguem-se aulas durante todo o dia e ao final do dia mais uma sessão de treino, onde os níveis de exigência são altos, requerendo-se muita concentração, execução técnica e repetição motora dos gestos.
Em 2016, nas academias de Shangai, onde estive como treinador, as equipas com treinadores portugueses delegavam neles próprios todo o planeamento.
A crianças e jovens chineses são tecnicamente muito bons (ao nível dos jogadores do Sporting, Benfica e Porto), mas o conhecimento táctico é muitíssimo reduzido. Ao serem submetidos ao planeamento e metodologias portuguesas (Descoberta Guiada) os jogadores passaram a pensar, a perceber e a decidir com mais qualidade.
A adaptação deles, no primeiro mês, foi extremamente difícil, porém após perceberem o que se pretendia e de terem autonomia para pensar e decidir a evolução foi enorme. Actualmente já existe competição organizada, contudo, com a participação de muito poucos clubes, dando-se ainda primazia aos torneios como oferta competitiva.
O treinador português está bem cotado e está na linha da frente do recrutamento sendo muito bem pago e com excelentes condições de trabalho incomparáveis às que vivemos em Portugal.”
O Sérgio não deixou de sublinhar também que ao abrigo da “lei dos números”, se por cá em 10 milhões há muitos bons jogadores, em 1. 300 milhões haverá muitos mais craques.
Nós por cá temos o talento e muito menores condições e eles por lá têm as melhores condições e menos talento, contudo o modelo de construção de talento a médio e longo prazo fará da China uma potência do futebol mundial.
E assim é o futebol de formação em Mandarim!