Bruno Dias, treinador do Tadim faz um balanço positivo da época que terminou inesperadamente devido ao Covid-19. O jovem treinador diz que a equipa teve «momentos brilhantes» mas não conseguiu manter a mesma consistência ao longo do campeonato da I Divisão, séria A, da AF Braga. No entanto, sublinhou que o 2.º lugar ainda estava em aberto.
Podia falar um pouco do seu percurso futebolístico?
Antes de mais, queria dar-lhes os parabéns pelo trabalho fantástico que têm tido na promoção do futebol distrital, que engloba muita gente competente e com ambições altas.
Em relação ao meu percurso no futebol fui jogador, fiz toda a formação e ainda joguei um ano como sénior. Terminei a minha caminhada como jogador quando decidi ir estudar para fora aquilo que realmente sempre quis fazer, que é treinar. Comecei então o meu percurso como treinador pela mão de um grande amigo, Sérgio Domingues, que abriu-me as portas da Academia do Sporting CP, em Braga.
Passei por todos os escalões de formação, desde traquinas até juniores, conciliando sempre duas equipas por época e passando também como adjunto de uma equipa sénior.
Na Academia do Sporting CP fui também Seleccionador das Academias na região do Norte. Embora goste muito do trabalho que é feito na formação, a minha paixão sempre foi o treino e o futebol sénior. E foi neste sentido que surgiu o FC Tadim, pela mão do presidente Alberto Cunha e do Director Miguel Almeida, que me convidam para trabalhar com eles no renascimento do clube.
Com que objectivos partiram para esta época?
Convém enquadrar aqui o contexto do clube. Após vários anos, o FC Tadim viu-se obrigado a acabar com o futebol sénior e seguir apenas com algumas equipas de formação, devido a problemas financeiros.
Depois voltaram a apostar na equipa sénior para aproveitar os jogadores da equipa de juniores que se sagrou campeã, em 2017/2018.
A época de 2018/2019, não correu tão bem quanto esperado, algo normal para uma equipa que era maioritariamente primeiro ano de sénior. Para esta época, entramos com um objectivo claro: reerguer o clube, estabilizar e voltar aos melhores tempos do FC Tadim. Para isso definimos como objectivo terminar nos sete primeiros classificados, praticar um futebol ambicioso e agradável, que valorizasse os jogadores e voltasse a chamar gente para o clube.
- Foi uma temporada com altos e baixos
Que balanço faz da temporada?
Foi uma temporada com altos e baixos, momentos de futebol muito bom, com alguma inconsistência, principalmente a nível de resultados. A jogar em casa fomos muito fortes (8 vitórias em 9 jogos, 28 golos marcados e 8 sofridos) e a jogar fora muito inconsistentes (1 vitória, 5 empates e 3 derrotas). A equipa tem uma média de idades de 22 anos o que explica alguma falta de experiência e maturidade em algumas ocasiões.
Estava dentro do esperado?
Diria até que estava acima do esperado. Desde o início que estabelecemos um objectivo realista para a época, não querendo dar uma passo maior que a perna. No entanto, terminamos com a possibilidade de lutar pela subida de divisão, algo que se tornou mais claro para nós no final da primeira volta, onde após uma reflexão entre todos decidimos que iríamos lutar por um lugar no pódio. O campeonato parou quando estamos a quatro pontos do 2.º lugar.
- Faltou alguma experiência
Chegaram a andar algumas jornadas na frente, mas depois caíram um pouco. O que se passou?
Tal como já referi, sobretudo alguma inexperiência por parte da equipa. Podíamos e devíamos ter feito algo mais em alguns jogos menos conseguidos. Inicialmente pode ter sido uma surpresa para muita gente o facto do FC Tadim, que na época passada terminara em penúltimo lugar, estar nos primeiros lugares. Para nós não era surpresa, a qualidade dos jogadores aliada ao compromisso incrível por parte deste grupo fantástico, só poderia trazer resultados positivos.
Ainda acreditava que era possível chegar a um lugar de subida?
Estaria a mentir se dissesse que não. No 1.º lugar o SC Ucha distanciou-se com todo o mérito, no entanto, o 2.º lugar estava claramente em aberto, embora o Granja FC com alguma vantagem pontual.
Este campeonato é competitivo?
Muito. Qualquer equipa que estava mais acima da tabela poderia facilmente cair frente a equipas que estavam mais abaixo. Nenhum jogo era fácil e todas as equipas tinham valor. Do 2.º ao 7.º lugar a diferença era de apenas cinco pontos, o que demonstra bem a luta por essa posição.
- Tivemos momentos na época incríveis
Na sua opinião qual a melhor equipa?
Aqui terei que puxar a brasa à minha sardinha, porque tivemos momentos na época incríveis, e nesses momentos a minha equipa era, na minha opinião, a melhor, com alguns resultados avolumados e exibições de encher o olho.
O facto de não termos conseguido manter esse nível de forma consistente é que nos fez cair um pouco. Além da minha equipa, obviamente, o SC Ucha, que estava no 1.ºlugar com todo o mérito, o Maximinense, com um futebol muito bom, o AD Carreira com um registo defensivo irrepreensível e um Granja FC, com uma intensidade enorme. Mesmo outras equipas que estavam mais abaixo da tabela poderiam perfeitamente acabar acima.
Há bons jogadores nesta divisão? Consegue eleger o melhor da vossa série?
Tem muitos jogadores jovens com potencial para jogar divisões acima, sem dúvida, e por outro lado, jogadores experientes com muita rodagem noutras divisões. Escolher apenas um jogador no meio de tantos com qualidade é complicado e injusto para outros, no entanto, gostava de referir o nosso capitão, Emanuel Mano, como um jogador de nível acima da média.
- O encerramento dos campeonatos era inevitável
Que opinião tem sobre o encerramento dos campeonatos. É de opinião de deviam haver subidas e descidas como algumas associações estão a fazer.
O encerramento dos campeonatos seria inevitável face ao momento que vivemos. Esta pandemia tem de ser a nossa luta principal e apenas após a vencermos poderemos voltar a pensar no regresso do futebol. A questão das subidas e descidas é muito complicada de tomar porque ainda haviam muitos pontos em jogo e toda a gente sabe que o futebol é uma incerteza. No entanto, há situações específicas que deviam ser melhor analisadas, casos como o GDR Esporões que fez um trabalho excepcional, na Serie B, e merece sem dúvida a subida. Mas como disse, é uma situação muito complicada e teremos de perceber seja qual for a decisão.
- O futebol distrital vai dar a volta por cima
Que futuro antevê para o futebol distrital?
Antes de tudo espero que toda a gente lute com responsabilidade para combatermos esta pandemia e para podermos voltar ao nosso futebol. Obviamente irá trazer novos problemas, novos desafios, mas a gente que anda no futebol distrital já lida com isto diariamente e vai com certeza arranjar sempre soluções para superar este período menos bom. Quando tudo passar, sairemos mais fortes.
Gostava de treinar uma divisão superior?
Obviamente que sim. O meu objectivo será sempre chegar a patamares superiores e continuar a crescer como treinador e como pessoa. Ainda estou a começar, tenho muito para aprender e para errar. Um passo de cada vez e não tenho dúvidas que chegarei lá.
Como se está a adaptar a estes tempos de quarentena?
São tempos complicados, ficar tanto tempo em casa não era de todo algo a que estivesse habituado, muito pelo contrário. No entanto, continuo a fazer o meu trabalho desde casa e absorver o máximo possível de futebol que, felizmente, no meio desta situação não tem faltado, desde conferências a formações, tal como vocês no Desportivo têm feito.