«É uma pena que isto termine por aqui. Haveria muito por decidir»

Óscar  Gomes, treinador do São Mamede D’ Este, falou com o Desportivo sobre a temporada do clube bracarense que aquando da paragem do campeonato ocupava o 6.º lugar no campeonato da I Divisão, série B, mas a dois pontos do segundo lugar, que dá direito a subir de divisão. O treinador da equipa bracarense diz que compreende a decisão tomada pelos órgãos federativos, mas sublinha que podiam existir condições para terminar o campeonato durante o Verão. 

«Havia condições para retomar a época no Verão»

Concorda com esta decisão da AF Braga?
Até aqui concordava em absoluto com a decisão de suspender os campeonatos da AF Braga. Se não conseguimos fazer um convívio de família ou de amigos, se não conseguimos viver normalmente em sociedade, também não faz sentido que haja excepções para realização de jogos de futebol. No entanto, não estou de acordo com a conclusão dos campeonatos. Havia ainda muito por disputar e assim fomentar a verdade desportiva no local próprio: dentro de campo.

Acha que é justa esta decisão?
Se olharmos para o plano social, não me parece que haja dúvidas que sim. Mas olhando para o plano desportivo é bastante penalizadora para todos os clubes, directores, treinadores, jogadores e restante staff, bem como patrocinadores e claro os nossos sócios e adeptos, que tudo prepararam desde o Verão para que a época decorresse normalmente.  Ainda não conhecemos que mais decisões vão ser tomadas, nomeadamente sobre o tema mais quente que falta conhecer: quem são os campeões, quem sobe de divisão e quem desce.
Neste plano, será uma injustiça que equipas como a Pousa ou o Esporões saiam penalizados por eventual anulação da época sem se atribuir campeões e promoções. Estão a realizar campeonatos excepcionais e merecem este prémio. Por outro lado, será também uma pena não continuar a acompanhar a luta taco-a-taco de algumas equipas, como por exemplo a luta pelo primeiro lugar na Pro-Nacional.
Olhando para a nossa série, é também uma pena que isto termine por aqui. Temos um campeonato em que o líder está a fazer um percurso à parte, mas depois temos um campeonato sensacional em que a distância do 7.º para o 2.º classificado é de apenas 6 pontos. Haveria muito por decidir.
Se avançarem com a homologação da competição, na nossa série nunca poderá ser com a classificação da última jornada disputada. É uma série composta por 17 equipas, há sempre uma que folga. Portanto, só há uma forma de equiparar as equipas, que é com o mesmo número de jogos. Nesse sentido, na minha opinião a homologação da temporada deveria ser definida pela classificação da última jornada da 1.ª volta.

  • «Gostaria de ter a oportunidade de concluir a temporada» 

Podia ser tomada outra posição?
A decisão foi tomada de acordo com o escalar desta pandemia e para a qual ainda não há uma previsão de quando tudo possa voltar à normalidade. No meu entendimento, havia condições para retomar a época no Verão. Se o problema é o clima, os jogos em vez de se realizarem às 15h00 ou 16h00, podem realizar-se às 18h30 ou 19h30 e concluem-se ainda com luz natural.
Como competidor, gostaria de continuar a ter oportunidade de concluir a temporada, mas de certa forma entendo a posição da AF Braga.  A título de exemplo, em Itália apontam que o jogo da Liga dos Campeões entre a Atlanta e o Valência pode ter sido um foco de propagação. É óbvio que estamos a falar de uma realidade totalmente diferente, mas quem toma este tipo de decisões certamente que está a ter todos os factos em conta, procurando que não se traduza num foco de propagação desta pandemia.

Que implicações pode ter no futuro do clube?
O S. Mamede d’ Este FC já viveu grandes momentos, viveu outros menos bons e soube sempre seguir em frente. Já represento o clube há cerca de sete anos e vivi várias experiências. Acredito que o clube certamente encontrará a força necessária para voltar a competir logo que haja condições para tal. No futuro imediato, estávamos preparados para levar esta temporada até ao fim.

  • «A equipa foi crescendo ao longo da época»

Que balanço faz da época do S. Mamede?
Depois de uma época tão desgastante e penalizadora, este ano iniciamos o campeonato com as expectativas muito baixas por tudo o que rodeia o clube. Sentíamos isso, e um dos compromissos que definimos na preparação da época foi de devolver a alegria às pessoas que gostam do clube e que o acompanham.
Voltar a ter uma equipa que naturalmente não iria ganhar sempre, mas que iria procurar sempre vencer os jogos que viesse a disputar.
A direcção do clube, neste aspecto, teve um papel importante, de suporte às nossas ideias. O trabalho deles é naturalmente menos visível, mas foi essencial desde o primeiro dia. Conseguimos o plantel que queríamos. Uma equipa jovem, com muito valor e vontade de jogar futebol.
Temos um plantel com média de idade de 23 anos. É certo que ao longo do percurso fomos detectando lacunas que na realidade todos os planteis acabam por ter e que se acentuaram pelo perda de dois jogadores por motivos profissionais, numa fase muito inicial.
Contudo, a equipa foi competitiva. Foi crescendo ao longo da época e está no patamar que queríamos. Definimos como objectivo chegar ao último terço da temporada a lutar pelo pódio da classificação, para que houvessem condições de reformular os objectivos para algo ainda mais ambicioso. A equipa compreendeu bem essa mensagem e seguimos sempre com esse objectivo.
Devo dizer que todos os jogadores foram extraordinários, os que jogaram mais e os que jogaram menos, destacando em particular os meus capitães de equipa, que tiveram um papel fundamental, no seio de um grupo tão jovem.
Em relação à competição, é uma pena isto terminar desta forma, quando há 5/6 equipas a lutar pelo 2.º lugar, e há ainda equipas como o GD Figueiredo e o Porto d’Ave B que não estão longe e que podiam muito bem vir a recuperar a desvantagem que têm, porque são equipas com qualidade e muito bem orientadas.
Uma palavra ainda para a minha equipa técnica e o departamento de futebol, que foram o meu suporte no dia-a-dia. Foram de facto uns verdadeiros companheiros.

Era o que esperava?
Esperávamos ser competitivos, ser uma equipa difícil de defrontar. Que os nossos adversários sentissem isso e que qualquer ponto conquistado contra nós teria de ser por muito mérito do adversário. Olhando para a posição na tabela, estamos em sexto lugar, mas a apenas 2 pontos do 2.º classificado, e que é a única equipa do pelotão da frente com o mesmo número de jogos disputados. Todas as outras têm mais um jogo.
Fica, portanto, esta frustração de não depender de nós para continuarmos a medir forças dentro de campo. Penso que todos os meus colegas e adversários também devem partilhar este sentimento, mas temos de seguir em frente e aceitar esta situação.

  • «Aproveitar para estudar, procurar mais conhecimento»

Como vai ser viver tanto tempo sem futebol?
Iniciei recentemente o meu percurso como treinador. É tudo muito recente e é de facto um desafio enorme. Agora que a decisão de concluir a competição é uma realidade, chegou o momento de avaliar juntamente com a minha equipa técnica tudo o que foi a nossa época. Identificar o que correu bem, o que correu menos bem e o que podemos fazer para rectificar no futuro.
Tenho aproveitado igualmente o tempo para estudar. Ser treinador requer um trabalho de preparação extra e tenho procurado obter mais conhecimento, no sentido de ter uma melhor capacidade de resposta no futuro.

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