A participação da seleção portuguesa no Europeu ficou muito aquém do esperado. Houve várias falhas na preparação e na leitura ao longo da prova.
Roberto Martínez fez uma fase preparatória praticamente imaculada sem derrotas e com exibições razoáveis. No entanto, com o potencial de jogadores que o selecionador tinha ao seu dispor, o líder da nossa seleção podia e deveria ter feito mais e melhor. Vejamos alguns aspetos a serem alvo de análise.
Roberto Martínez demorou demasiado tempo a perceber qual o melhor sistema para a equipa. Variou entre o 4x3x3, 4x2x3x1 e o 3x4x3. Foi adaptando jogadores a posições que não estão habituados na seleção. A adaptação de Nuno Mendes a central é um desses exemplos. Mas houve, também, erros na leitura de jogo e nas substituições. As saídas de Rafael Leão, de Vitinha e a entrada de Francisco Conceição para a ala-esquerda no jogo contra a Eslovénia são elucidativas desses erros.
Rafael Leão estava a ser um dos melhores em campo e Francisco Conceição nunca tinha jogado na ala-esquerda. Não se consegue compreender essas opções. A saída de Vitinha também não foi compreensível. Estava a ser um dos melhores em campo e, mais do que isso, o principal elo de ligação de jogo.
Com a saída de Vitinha, a seleção foi perdendo a capacidade de ligar o jogo, o caudal ofensivo e o equilíbrio no meio-campo.
Também não se compreendeu a insistência da manutenção de Ronaldo em campo quando o seu desempenho estava a ser praticamente nulo e era necessário refrescar a frente de ataque. Faltou ousadia e maior ambição. Numa equipa não pode haver intocáveis nem uma espécie de estatutos na equipa.
Era também possível testar um sistema com dois avançados visto que faltava ter mais gente na área para os cruzamentos e que Ronaldo estava a ser um dos fiascos da seleção.
A nível de comunicação, uma das coisas que sobressaiu foi a uniformidade da comunicação. Esse é um aspeto positivo a reter. Por outro lado, o selecionador não foi coerente nas justificações dadas sobre as substituições. Roberto Martínez deixou a imagem de que havia estatutos dentro da equipa. Isso é errado e não deve prevalecer num conjunto. Se há jogadores que não têm rendimento devem ser substituídos e não ficarem em campo apenas a fazer número.
Um dos bons exemplos das justificações desastrosas foi a de que o estado da relva estava mau para determinados jogadores. Não estaria também para os outros jogadores? Ou a relva melhora e piora consoante os jogadores?
Outro aspeto negativo foi a falta de abertura para responder a perguntas mais incómodas e das quais as justificações poderiam comprometer as escolhas. Ganharíamos todos se houvesse essa abertura e transparência.
No discurso ficou a sensação de um treinador conformado com o mínimo e de um líder com pouca ambição.
Com o fim da prova é já sabido que tanto Pepe como Ronaldo não irão participar em mais Europeus.
É tempo de deixar um profundo reconhecimento por tudo o que deram e pelas alegrias que nos proporcionaram.
São dois ícones da seleção e com um enorme historial de conquistas e de marcas.
Em jeito de resumo, não se pode considerar brilhante a participação portuguesa. Pelo contrário, ficou muito aquém daquilo que podia e deveria ter feito.
Há muito para rever e melhorar para os próximos desafios.
No fim de toda a prova fica o orgulho lusitano de termos chegado aos quartos-de-final e a certeza de que há muito a analisar e a retificar!