Talvez este termo “Carreira Dual” não seja ainda uma terminologia muito conhecida no habitat da comunidade do futebol de formação. Começa agora a dar os seus primeiros passos, fundamentalmente, através do processo de certificação dos clubes enquanto entidades formadoras por parte da Federação Portuguesa de Futebol, designadamente no seu critério número seis – Acompanhamento Escolar, Pessoal e Social.
O sonho do futebol, ainda que idílico para muitos, fica muitas vezes aquém do que se pensa ou se deseja. As razões são variadas, mas os resultados são quase sempre o mesmo: lesões graves, doenças inesperadas, problemas de gestão financeira, maus investimentos, fraudes, más opções de vida…uma lista sem fim de episódios que acabam por destruir o sonho e consequentemente o individuo.
São casos que criam um desequilíbrio emocional e social que levam, em muitos casos, a situações de dificuldade de readaptação a uma nova realidade que pode até levar a problemas de harmonia familiar e à perda da pessoa capaz e integrante de uma sociedade plural e activa.
Os estudos provam que, por exemplo, no futebol americano cerca de 80% dos jogadores de futebol que se retiram do profissionalismo ficam falidos nos primeiros três anos. Na Liga de basquetebol profissional dos Estados Unidos da América – NBA, cerca de 60% dos jogadores após terminarem a carreira fica falida em cinco anos.
Na primeira Liga de Futebol de Ingraterra – FA Premier Ligue, dois em cada cinco ex-jogadores profissionais apresentam sérias dificuldades financeiras, num máximo de cinco anos depois de se retirarem. Nessa mesma Liga, um em cada três ex-jogadores profissionais divorciam-se nos primeiros 12 meses depois de se retirarem.
As razões para estas consequências são variadas, sendo que a falta de preocupação e preparação na “segunda carreira” (carreira escolar) foi descorada ao abrigo de um sonho que tem grandes percentagens de ilusão.
Deixo o meu exemplo, que na década de 90, fiz um percurso que me levou muito perto do profissionalismo, inclusive cheguei a estar lá, mesmo que por muito pouco tempo. Nessa fase, mesmo com 18 anos, já ambicionava vestir bem, ter um com um bom carro, lindas mulheres e a dar autógrafos.
A escola estava em segundo plano e, por isso, não fui além de uma média geral no 12.º ano de 14 valores, o que poucas saídas me daria no contexto profissional. As lesões reincidentes foram, aos poucos, retirando-me da cena do alto rendimento e quando dei por mim, aos vinte e um anos, estava na III Divisão Nacional a ganhar 100 contos e com tendência a passar a ser jogador de distritais e de “posto médico”.
Atualmente, vivemos a era da ronaldomania com o proliferar de escolas e mais escolas de futebol, clubes mais clubes que “oferecem” sonhos, sonhos esses onde todos os intervenientes no processo desportivo devem ser justos e realistas, dando voz assertiva à importância da “Carreira Dual” dos jovens atletas.
Joguem, marquem golos, divirtam-se, mas coloquem sempre na vossa linha da frente as metas da escola, pois são o maior garante de um futuro mais sustentável!
O sonho do futebol, ainda que idílico para muitos, fica muitas vezes aquém do que se pensa ou deseja.
As razões são variadas, mas o resultado é quase sempre o mesmo: lesões.