Bancadas como locais de eleição para espetáculos circenses

As andanças periódicas no futebol facilitam que sem bilhete possamos assistir a espetáculos só ao nível de um Circo de Monte-Carlo. A palavra circo pode ter inúmeros significados e um deles diz exatamente que o circo é um espetáculo de acrobacias, normalmente realizadas por animais domesticados, realizados num recinto circular.

E foi precisamente por tomar conhecimento de que aqui bem perto, e muito recentemente, decorreu nas bancadas de um campo de futebol mais um espetáculo de circense que recuperei o belo artigo escrito pelo admirável Professor Carlos Mangas no passado dia 20 de dezembro de 2017, que pretendo aqui partilhar, por o mesmo dizer tudo o que ao tema diz respeito:

“Nesta época festiva os CTT costumam encher-se de cartas dirigidas a um senhor de barbas brancas. Apesar de já não ter idade para acreditar na sua existência, dei comigo a pensar em escrever-lhe também, por entender que em determinadas situações, uma simples troca resolvia muitos problemas.

Por manifesta falta de tempo, recentemente não tenho acompanhado jogos do futebol (dito) de formação, no entanto vou-me apercebendo das incidências que continuam a proliferar nas bancadas e que passam invariavelmente para o campo de jogo. Sem relação aparente com este assunto, tenho acompanhado a preocupação do PAN e petições existentes, relacionadas com a qualidade de vida dos animais do circo.

Então pensei, e se o Pai Natal, devidamente alertado, resolvesse estes dois problemas com uma simples troca. Complicado? Não. Pais que não se saibam comportar em recintos desportivos, seriam colocados no circo, onde seriam autorizados a realizar todo o tipo de palhaçadas e macacadas para a criançada ver.

Se as crianças não gostassem, os domadores dar-lhes-iam o devido corretivo que os deixaria, no mínimo, com caras de urso. Em contrapartida, os animais do circo seriam colocados nas bancadas dos recintos desportivos onde teriam muito mais liberdade e, sendo amestrados, continuariam a fazer as delícias das crianças, batendo palmas sempre que houvesse golos ou jogadas de qualidade, independentemente das cores das camisolas que estas vestissem. E, quem sabe, cada vez que um jovem árbitro apitasse, eles interpretassem isso como um sinal para fazer uma brincadeira, que seria aplaudida por todos os intervenientes no jogo.

No final, juntos e em festa, como no circo, crianças, árbitros, dirigentes, treinadores e… animais, interagiam, sem preocupações com o resultado do jogo, ou sobre quem marcou golos, mas sim porque todos se divertiram e se sentiam ter aplicado no jogo o que aprenderam ao longo da semana, nos treinos.

Surreal, esta situação? Talvez, mas não mais do que aquelas a que assiste semanalmente quem tenta incutir nas crianças e jovens, valores como o fair play, o companheirismo, o mérito desportivo, a derrota como consequência para a necessidade de aprender mais e melhor, e as vitórias como fruto do trabalho desenvolvido, e infelizmente vê nas bancadas, onde supostamente estarão os educadores dessas crianças, muita falta de civismo, ou usando uma linguagem circense, comportamentos animalescos.

Eu sei que é mais fácil acabar com os animais no circo, do que tirar estes energúmenos das bancadas, mas, a época é propícia a pedidos esquisitos e eu quero acreditar no… Pai Natal.”