Arbitragem com arbitrariedade

Falar de árbitros levanta sempre polémica, por isso, raramente, nas minhas crónicas, analiso esta atividade. Porém, não consigo ficar indiferente a realidades pouco conhecidas e que tomei conhecimento na primeira pessoa de quem sente na pele e não se pode pronunciar.

É dado assente que sem árbitros não há jogos, e, portanto, estes são agentes imprescindíveis ao futebol quer se goste, quer não se goste.

O árbitro é considerado pelos faciosos como o mal-amado do futebol. O fanatismo dos adeptos não compreende que a equipa de arbitragem também deseja ser a melhor em campo.

Porém, a sua missão torna-se mais difícil e complicada quando os jogadores, adeptos e outros agentes desportivos não colaboram. Contudo, não deve inibir-se, mas sim impor-se e fazer cumprir as leis de jogo.

Os árbitros decidem em frações de segundo, enquanto os críticos depois de reverem os lances de vários ângulos e em várias repetições afirmam, perentoriamente, que o árbitro se enganou ou não.

Os árbitros são superiores aos críticos, dado que têm de reagir de imediato, enquanto os críticos são lerdos a encontrarem as certezas.

Como agravante, e falando aqui “nos senhores do apito” do futebol regional, estes são apoiados financeiramente por valores, para mim, arbitrários e de envergonhar qualquer um que superintenda os organismos de futebol, onde se ganham milhões.

Registe-se que um árbitro que apite jogos de futebol infantil ganha 26€ por jogo; que apite jogos de futebol 11 de formação ou seniores, pode receber entre 26€ a 30€ e os seus auxiliares de 17€ a 19€.

As equipas de arbitragem dependem ainda dos seus transportes para se deslocarem para os jogos, onde devem suportar despesas de combustível e desgaste de viaturas e, eventualmente, alimentação.

Como agravante são submetidos muitas vezes a condições climatéricas adversas, contributo para doenças e ainda não se livram do preconceito e do insulto que atenta à sua honra e dignidade pessoal, assim como em alguns casos de agressões.

Estes números e realidades devem sensibilizar qualquer um que atente em comentários depreciativos contra os mesmos.

A “corrupção” mora mesmo aqui ao lado, ela “atira-se” a estes agentes desportivos ao virar de cada esquina, pois, afinal de contas, num meio de tanta precaridade e arbitrariedade, assiste a quem tutela esta área do futebol repensar o modelo de compensações aos árbitros do futebol distrital.

O Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Braga lançou recentemente curso gratuito para árbitros, abrindo portas aos jovens de 14 anos a um desafio que não se espera fácil, pelas razões acima enumeradas. Todavia, considero que será sempre uma excelente experiência na aprendizagem e formação pessoal/social para os jovens que decidam tirar o curso.

O meu filho mais velho, com quinze anos de idade já está inscrito e vai frequentar o curso, e apesar das adversidades que irá encontrar, irá certamente retirar muitos dividendos da experiência, mesmo que passe a estar integrado num modelo de arbitragem muito arbitrário.

As minhas saudações a esta classe que merece todo o respeito!