Vadym Rafael Perekhrest não fugiu à guerra da Ucrânia, nasceu em Portugal há 20 anos e está perfeitamente identificado com a cultura e o futebol do nosso país. Formado no GD Prado até ao último ano de juvenis, de onde diz que saiu de forma injusta, prosseguiu a carreia futebolística no Arsenal de Crespos, tendo-se estreado na equipa sénior ainda com a idade de júnior. Realense e GD Mirandês, na Divisão de Honra da AF Bragança, foram os outros clubes que representou antes de chegar ao Ribeira do Neiva no início desta época.
«Estava à espera que surgisse um convite de uma divisão superior, até profissional, mas como acabou por não acontecer e como sabia que o Ribeira era um bom clube decidi aceitar o desafio», contou ao nosso jornal Vadym.
«Fiquei surpreendido pela positiva, foi um clube que me recebeu de braços abertos, toda a estrutura», juntou o avançado, que passou 12 anos nas camadas jovens do GD Prado.
«Quando era miúdo jogava à frente, depois deu-me um clique que queria ser guarda-redes, não sei porquê, mas após quatro anos senti que alguma coisa não estava a bater certo e voltei a jogar na frente. Tive de provar muito que tinha valor para ficar como avançado», expôs o jogador.
«Quando fui dispensado do Prado custou-me muito porque foi um bocadinho inesperado e, na minha opinião, injusto», lamentou.
Convite do GD Mirandês
Na época passada, Vadym saiu pela primeira vez da sua zona de conforto e viajou até Miranda do Corvo, distrito de Bragança, para jogar no GD Mirandês, no campeonato da Divisão de Honra, num projecto de subida, mas que acabou por não se concretizar. O jogador diz que foi uma «experiência enriquecedora», pois pela primeira vez na carreira apenas jogou futebol.
«Deram-me essa oportunidade de apenas jogar futebol. Mas não foi fácil ficar longe de casa, num sítio mais rural do que estava habituado. O futebol também é diferente do praticado aqui, mais directo, menos técnico», mencionou Vadym, que no final da época decidiu regressar a casa.
«Recebi um convite para continuar, mas decidi que este ano queria ficar de novo mais perto da minha família, sou novo, sei que ainda tenho tempo e gosto de levar as coisas com mais calma», referiu o jogador, que não considera que tenha dado um passo atrás na carreira.
«O Ribeira do Neiva é um bom clube e os campeonatos da AF Braga, mesmo sendo a última divisão, têm visibilidade. Sei que se fizer uma boa época posso dar o salto para outras divisões mais competitivas», proferiu o avançado, que deu asas aos seus sonhos.
«Até podem achar que sou arrogante, mas posso chegar a uma II Liga ou até à I Liga. Tenho esse sonho de chegar ao futebol profissional, mas também sei que o caminho é longo e árduo, tenho de trabalhar muito. Sou uma pessoa optimista, acredito muito nas minhas capacidades e sei que posso quebrar barreiras», expressou.
Ribeira quer regressar à Honra
«Vamos crescer muito como equipa»
Nas quatro jornadas disputadas até ao momento no campeonato da I Divisão da AF Braga, série B, a equipa do Ribeira do Neiva somou três vitórias e um empate, ocupando o 2.º lugar, com 10 pontos, menos dois que o líder Terras de Bouro.
«Temos como meta subir, mas principalmente como campeões. Somos uma equipa nova, ficaram poucos da época passada e acredito que ainda vamos crescer muito ao longo do campeonato», apontou o avançado, que nas quatro jornadas apontou apenas um golo.
«Sou um jogador criativo, um 10 ou um falso 9, gosto de me envolver no jogo, não só finalizar, mas ter criatividade. A minha arma é a disponibilidade física, garra, deixo sempre tudo dentro de campo», explicou o jogador.
Já perdeu alguns familiares na guerra
«Só nos resta rezar»
Vadym passou um mês um Kiev, terra natal dos pais, pouco tempo antes da invasão da Rússia à Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro de 2022.
O jogador do Ribeira do Neiva confidenciou que já perdeu alguns familiares e espera que o conflito termine, pois deseja voltar a visitar a Ucrânia.
«A maioria da minha família está na Ucrânia e a minha mãe está quase sempre em contacto com eles. Felizmente, em Kiev, as coisas estão bem melhor do que noutras regiões do país, mas também já perdemos alguns familiares. Nós só podemos rezar e pedir que a guerra termine para que o sofrimento do nosso povo acabe rapidamente», disse.