Quantos de nós já ouvimos ou comentamos: “Aquele miúdo nem correr sabe, cai sozinho!”. ”Nem na bola acerta!” Quantos miúdos (as) nas férias de verão (período sem competição) crescem três, quatro e até cinco centímetros? Tudo isto, com maior incidência numas crianças do que noutras, são consequências normais do crescimento e tem uma predominância maior quanto mais curto (rápido) for esse pico de crescimento.
Em primeiro lugar devemos perceber o que são capacidades motoras, que, de uma forma simples, são as condições existentes no organismo humano que permitem a realização das diferentes ações motoras (correr, saltar, entre outras) e que podem ser desenvolvidas com o treino. As capacidades motoras dividem-se em condicionais (força, resistência, velocidade e flexibilidade) e coordenativas (orientação, ritmo, equilíbrio, entre outras).
Entre, aproximadamente, os 11 e 16 anos, existem diversas alterações na morfologia e padrões de movimento que interferem diretamente no rendimento desportivo. Entre outros, um dos principais acontecimentos nesta faixa etária é o pico de crescimento em estatura, existindo nesta fase, um grande declínio das capacidades coordenativas, tendo em conta que o Sistema Nervoso Central precisa de tempo para processar e se adaptar a estas alterações bruscas do comprimento dos músculos e ossos.
Após o pico de crescimento em estatura, ocorre o pico de ganho de massa muscular, diretamente associado ao aumento da testosterona. Esse ganho de massa e o amadurecimento das funções musculares proporcionam um aumento na capacidade metabólica, que por sua vez tende a aumentar os índices de força, velocidade e resistência, especialmente se houverem estímulos motores adequados.
Como sabemos estas alterações não acontecem em todos os jovens ao mesmo tempo, portanto, sem a avaliação da maturação biológica, não será possível interpretar adequadamente se o desempenho apresentado pelo jovem atleta reflete a sua real capacidade ou se, por outro lado, está a sofrer uma interferência transitória do processo de maturação biológica.
As dificuldades na execução das tarefas motoras são acompanhadas por dificuldades emocionais e sociais, tais como problemas comportamentais, baixa autoestima, estabelecimento pobre de metas, autoconceito muito baixo, fazendo com que muitos desses atletas desistam da modalidade que praticam. Quantos “Messis” e “Bernardos” se perderam por aí…
Os treinadores, professores, pais e amigos deverão entender o ritmo de cada um para esse ajustamento anatomofisiológico, e muito mais do que querer fazer ao ritmo de todos , é importante respeitar/motivar o ritmo individual, ajudando desta forma os jovens a encarar com normalidade esta etapa da sua vida e nomeadamente em contexto de treino/aula criar condições (exercícios) para que recuperem o controlo dos padrões de movimento e ultrapassem esta fase com a maior brevidade.
*Texto escrito com a nova ortografia