«A equipa ficou triste, em choque, pois estávamos numa curva ascendente, em lugar de subida»

Rui Silva regressou ao FC Amares para tentar levar de novo a equipa ao maior escalão da AF Braga. O treinador assumiu o comando dos juniores  já com o comboio em andamento (substituiu Tiago Alves) e na altura em que parou o campeonato ocupava o segundo lugar no campeonato da I Divisão, série A. «O clube do meu coração é o FC Amares e um dia espero regressar», disse o técnico ao Desportivo.

Porque decidiu regressar aos FC Amares?
Em Agosto de 2016, em entrevista ao Desportivo, depois de receber convite para treinar a equipa sénior do Aboim na Divisão Honra, disse “O clube do meu coração é o FC Amares e um dia espero regressar”. O convite para treinar os juniores do FC Amares partiu do Coordenador da Formação, o José Almeida, pessoa muito competente e organizada e do Hélder Faria, Director Desportivo, que dispensa apresentações, pois respira e conhece o futebol como poucos. Foi um convite para regressar a casa, pois foi o FC Amares que me abriu as portas para iniciar a carreira de treinador. Aceitei também devido há minha motivação, sentido de responsabilidade, exigência e rigor, que são os princípios da minha vida profissional e desportiva, e principalmente a minha capacidade de liderança. Essa é a palavra-chave. Encontrei um clube com um projecto sólido e sustentado, com base no trabalho, na organização, exigência e na colaboração transparente entre todos: jogadores, equipa técnica e coordenação/direcção do clube.


Entrou a meio da época como encontrou a equipa?
Encontrei uma equipa no 5.º lugar e que em 10 jogos tinha 6 vitórias e 4 derrotas, a 7 e 6 pontos do 1.º e 2.º lugares. O que me pediram foi para a subir à Divisão de Honra.
Tive que fazer uma pré-época, com o campeonato a decorrer e para atingir os objectivos tive que fazer opções. Dos cinco factores do futebol, trabalhei um mês o factor mental, táctico e a imprevisibilidade, e posteriormente, os factores técnicos e físicos. Estes factores foram trabalhados de forma intensa e persistente, principalmente o factor mental, onde o controle emocional assumiu um papel relevante e decisivo. Todos interiorizaram essas opções, de acordo com a metodologia de treino, com a média de participação de 96%, e os resultados demonstraram isso: 8 jogos, 7 vitórias, 1 derrota e 29 golos marcados, apenas superados pelos líderes da Divisão de Honra da I Divisão, Serie B.

Quando parou o campeonato estavam segundos. Pensa que era possível manter esse lugar?
Sem dúvida. Em 8 jogos recuperamos 10 pontos para o 1.º (menos 1 jogo), 9 pontos para o 3.º e 2 pontos para o 4.º. Fomos uma equipa que em média por jogo fazia 14 remates.

Não pensavam no primeiro lugar?
Estávamos a 9 pontos do Celeirós, que no jogo da primeira volta perdemos por 6-4 (fora) e que foi um grande jogo da nossa parte. Estivemos a perder por 4-2 no inicio da 2-ª parte e com menos um jogador chegamos a 4-4. Com uma nova expulsão não conseguimos o nosso objectivo, mas demonstramos a nossa competência e o que é ser jogador à FC Amares.

 

  • Jogavam futebol e não à bola

Como caracteriza a equipa do FC Amares?
Uma equipa muito competente, organizada, disciplinada, com posse da bola e pressão. Jogavam futebol e não à bola, sabiam entender e analisar o jogo e os seus momentos, tinham uma identidade e um modelo de jogo dinâmico, em que os jogadores faziam e cumpriam várias funções. Os jogadores foram excepcionais, dedicados, empenhados, com uma grande capacidade de superação. Uma equipa com mística, onde a entrega nos treinos projectava para os jogos uma equipa vencedora.

Há jogadores que podem ficar nos seniores?
Sim, temos jogadores que já treinavam nos seniores, inclusive do primeiro ano.
O FC Amares nos últimos anos tem sido um clube formador, com jogadores saídos da formação com grande qualidade.

 

  • Não encontrei uma equipa com uma identidade e um modelo de jogo como a nosso

Que avaliação faz do campeonato. É competitivo?
Muito competitivo, onde todos tinham de estar em alerta permanente. Quem teve competência, organização, baseada na metodologia de treino, impôs os seus argumentos no terreno de jogo.

Quais as equipas mais fortes?
O FC Amares. Não encontrei uma equipa com uma identidade, um modelo de jogo e uma intensidade contagiante como a nossa.  Faziam uma pressão constante sobre o adversário e nunca relaxavam.

Concorda com a anulação dos campeonatos?
Em primeiro lugar está a saúde. Se não havia condições de terem aulas também não se podia jogar. Foi a solução correcta. Ainda faltavam oito jornadas para o fim do campeonato e se os campeonatos recomeçassem seria complicado pois era uma fase de exames finais de curso e de acesso ao ensino superior. 

O FC Amares sai prejudicado?
Claramente. A equipa ficou triste, em choque, pois estávamos numa curva ascendente, em lugar de subida.
Queria deixar um agradecimento muito especial ao senhor Fernando, que esteve sempre comigo no treino, ao meu Director, senhor Maia, sempre presente, atento e amigo, e o apoio incondicional de dois grandes homens que vivem e sentem o treino e o jogo de uma forma única, o senhor. Domingos e o Presidente Olivier Silva e também ao José Almeida e ao Hélder Faria que acreditaram que eu podia fazer a diferença.