Entrevista do presidente do Soarense SC, Carlos Guimarães, ao Desportivo.

Carlos Guimarães diz que este não será o ano da «reinvenção» do Soarense SC. Na entrevista ao Desportivo, o responsável máximo do clube bracarense, que ocupa o cargo há mais de uma década, assume que, devido a várias condicionantes, «o maior de Braga» não pode aspirar a mais do que a I Divisão.
Carlos Guimarães deixou também críticas a «algumas pessoas» que gerem o Bairro da Misericórdia pelo facto de não dialogarem para «sanar um problema que nada tem a ver» com a sua Direcção.
«Não é concebível que um clube como o São Paio d’ Arcos, que me merece todo o respeito, esteja a jogar em São Vicente e um clube da Freguesia jogue nas Camélias», atirou.

O Soarense é candidato a subir novamente à Honra?
Começámos uma época que não será da reinvenção do Soarense. De uma vez por todas decidimos que tínhamos de colocar os pés no chão. O nosso universo não nos permite muito mais que não seja uma I Divisão. É com alguma mágoa que digo isto, mas é a realidade.

Porquê?
As pessoas podem pensar que não, mas o futebol regional tem muitas dificuldades e então para clubes do centro da cidade isto está a ficar insuportável. Quem tiver camadas jovens ainda consegue fazer algumas coisas. Agora um clube sem formação, sem um campo, apesar das excelentes condições que nos vão proporcionando aqui nas Camélias, não pode ambicionar a  muito mais do que isto. Por isso, tivemos que nos reajustar e partimos com um objectivo claro apenas de honrar simplesmente o maior de Braga. Um clube que vai fazer 99 anos, só mesmo por isso já merece o respeito de todos.

Mas nesta divisão há que ter ambição ou não?
Sim, claro que vamos encarar cada jogo como uma final, queremos ganhar sempre. Agora a ideia é fazer duas ou três épocas razoáveis com estes jogadores, sem pressão. Se tiver que acontecer, estamos cá. Seja para o bem, seja para mal, estamos cá para assumir tudo.

É também cada vez mais difícil formar plantéis?
Sim. As pessoas podem não acreditar, mas o Soarense está a pagar apenas prémios de vitória, nada mais. Os jovens hoje em dia estão um bocadinho já com aqueles sonhos, se calhar elevados demais, mas ninguém pode negar sonhos a ninguém. Por isso, para fazer uma equipa competitiva é muito difícil. Por outro lado, em dois anos perdemos 70% de patrocínios. Por isso, o lema tem que ser mesmo este: jogar, honrar, divertir e respeitar, acima de tudo.

Corte para metade no orçamento
O orçamento diminuiu muito?
Posso dizer que o nosso orçamento da época passada foi de 21 mil euros e, neste momento, é de 10 mil, ou seja, houve um rombo muito grande. Agora, pode aumentar um pouco mais, dependendo dos prémios de jogo. Mas estamos a falar de uma redução de 50% do valor. No entanto, com mais ou menos dificuldade conseguimos formar um bom plantel, mas estamos muito longe de falar em candidatos à subida.

O facto de não terem um campo próprio também não ajuda?
Essa é outra situação que nos tem condicionado. A partir de Novembro, o campo das Camélias vai entrar em obras e vamos ter de jogar no campeonato número 2.  Isso é mais um problema, porque não tem condições para receber os adeptos. Os custos de um jogo em nossa casa ficam por cerca de 300 euros e nem sequer um terço conseguimos de receita, porque nem bar temos. Agora, com a troca de campos, a situação ainda se vai agravar.

«Mesquinhice de duas ou três pessoas»
O diferendo com o Bairro da Misericórdia está ultrapassado?
Tenho uma relação institucional muito boa com a Junta de Freguesia de São Vicente, mas há um lamento que nos vai na alma: não é concebível que um clube como o São Paio d’ Arcos, que me merece todo o respeito, esteja a jogar em São Vicente e um clube da Freguesia jogue nas Camélias. Enquanto presidente do Soarense estou aqui para fazer amigos, mas há pessoas que teimam em não ceder nada. As pessoas do Bairro da Misericórdia e das Palhotas dão-se bem, vão a sítios comuns, partilham o dia-a-dia, e depois porque existem duas ou três pessoas que, por mesquinhice, não cedem a nada, não podemos jogar na nossa Freguesia. O Bairro tem que ser dos sócios e se eles acharem por bem que os clubes de São Vicente têm que jogar naquele campo…

Ainda acredita que isso seja possível?
A fé que tenho relaciona-se com o fim da Sociedade Gestora de Equipamentos de Braga (SGEB). Diluindo a SGEB penso que nos teremos de sentar à mesa e decidir as coisas como elas têm que ser. O campo vai passar a ser camarário, vai deixar de fazer sentido os protocolos que foram assinados em tempos. Todos sabemos que aquele campo sempre foi e será do Bairro da Misericórdia. Agora, poderíamos criar sinergias. Nós comprometemo-nos a ter apenas futebol sénior e como o Bairro tem apenas formação poderíamos aproveitar alguns jogadores.  Deixo mais uma vez esse apelo, sentido mesmo, a quem de direito para que se esforce, que tentem unir de uma vez por todas os clubes de São Vicente num campo só e, certamente, São Vicente terá uma das equipas mais competitivas da AF Braga.

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