Após um interregno das minhas crónicas semanais no Desportivo on-line, com o “cheiro” do regresso da actividade desportiva junto do futebol de formação, volto com ele, e por ele, a emitir pensamentos e opiniões de partilha com os seguidores do melhor jornal desportivo da região.
Sou mais um dos promotores e defensores de todas as medidas tomadas no âmbito da prevenção do Covid-19. Aliás, enquanto agente de polícia, estive desde Março na linha da frente e sou parte de um sistema repressor de quem não cumpre.
Porém, é enquanto agente desportivo e fundamentalmente enquanto Encarregado de Educação, que aqui quero deixar uma espécie de “grito de revolta”, para com quem superintende as entidades governamentais de que o equilíbrio deve ser um ponto de ordem em tudo que forem decisões de desconfinamento das mais variadas actividades, entre as quais a que aqui trago: a prática da modalidade futebol de formação.
Ontem foi o dia D, pois acabou de chegar a tão esperada norma da DGS, a denominada norma n.º 36, que vem regular a contabilidade entre o regresso do futebol de formação.
Sob o tema Desporto e Competições Desportivas, no meu entendimento e interpretação, assistimos a um completo atropelo e desconsideração aos cerca de 100 mil praticantes da modalidade, que vão dos 5 aos 18 anos.
Aqueles que já somam nas pernas, cerca de seis meses de ócio, vídeo jogos, redes sociais e mais muito pouco. É caso para se dizer: eu não percebo nada disto, parece que a partir deste momento, não existe mais em Portugal, obesidade infantil, cancro, AVC, diabetes, doenças psicológicas e outras doenças mortais, mas sim apenas e só Covid-19. As nossas crianças e jovens apenas podem ter complicações via Covid.
Os números falam por si, pelos dados estatísticos que fui acompanhando, as taxas de contágio e consequente letalidade junto dos mais jovens são residuais.
Venha quem vier, e com o argumento que quiser, as crianças e jovens não apresentam apenas risco de contágio na prática do futebol, pois eles juntam-se em grupos no rio, na praia, na rua, nas espalmadas e o risco de conduzirem o vírus para casa é certamente similar.
Permitem-se legalmente ajuntamentos até 20 pessoas e no futebol não podem treinar juntos? Então permite-se aos seniores treinarem juntos e às crianças e jovens não? Expliquem-me por favor !
Não “reconheço” legitimidade à DGS para tanto, pois os pais deveriam ter uma palavra a dizer e compete a eles fazer a gestão do risco.
Deixo mais um exercício. Onde colocamos 22 miúdos ou menos, numa área ao ar livre num campo de futebol e o mesmo número de miúdos dentro de uma sala de aulas de pouco menos de 50 metros quadrados e o mais leigo que analise o que será mais gravoso.
Não sei quem e porque razão o faz, porém estou a assistir a uma espécie de atentado ao futebol de formação que tira de casa, das ruas, do crime, da obesidade, da anti-socialização milhares e milhares de crianças e jovens de todo o país. Os pais, os agentes desportivos, os clubes, as autarquias e o Estado estão inertes e tem de acordar já!
Não se resignem, não sejam cobardes, garantam o futuro destes miúdos, não deixem que a DGS se transforme na DGC.
Tenho dois filhos menores, praticantes, por eles e pelos seus comparsas lutarei firme!
Boa época a todos.