«É verdadeiramente nestas alturas que nos apercebemos o quão felizes éramos»

Bruno Correia, conhecido no mundo da bola por Schweppes, está há sete anos consecutivos no Porto d’ Ave. O capitão da formação povoense, de 30 anos, diz que a época ficou «aquém das expectativas» e que o encerramento dos campeonatos «beneficiou» a sua equipa, bem «como muitas» nos diversos campeonatos. O médio sublinha ainda que o Pevidém e o Brito foram os clubes mais prejudicados com esta tomada de posição da FP Futebol.

 

Desportivo: Como é que está a lidar com esta pandemia? 
Sempre com os devidos cuidados que todos temos de ter. Felizmente, a minha profissão permite-me trabalhar a partir de casa, portanto tenho passado os dias em casa, limitarão as saídas ao estritamente necessário.

Schweppes: O plantel do Porto d’ Ave encontra-se bem?
Felizmente está tudo bem. A nível humano temos um grupo fantástico e portanto continuamos todos em contacto. As tecnologias facilitam a interacção  e que continuemos, embora longe, todos muito perto uns dos outros.

Tem sido difícil este tempo sem futebol?
Tem sido dificílimo. Pessoalmente quase não tenho memória de nesta altura não fazer o que mais gosto, que é  jogar futebol e tudo o que ele acarreta, desde o treino, o convívio, o balneário e a competição. É verdadeiramente nestas alturas que nos apercebemos o quão felizes e afortunados éramos.

Este longo tempo de paragem pode prejudicar a planificação da próxima época?
Vão existir certamente implicações. Primeiro porque ainda estamos, a meu ver, numa fase muito embrionária do problema. Neste momento, não existem datas concretas, nem projecções optimistas de quando tudo voltará à normalidade. Portanto, sim, que a planificação da próxima época terá de ser obrigatoriamente repensada.

  • «Época muito aquém das expectativas»

Que balanço faz da época do Porto d’ Ave?
Tendo em conta a qualidade individual do plantel, estávamos a fazer uma época muito aquém das expectativas. Assim, o demonstra de forma clara a classificação.

E individual?
O futebol é um desporto colectivo. Desta forma não é a meu ver possível dissociar o individual do colectivo e vice-versa. Assim, e muito a frio, coloco-me no mesmo patamar da equipa. Esta época estive muito abaixo das expectativas, tanto do clube, como das minhas, até porque como capitão tenho responsabilidades acrescidas e penso que em alguns momentos, por vários factores, não estive a altura dessas responsabilidades.

Concorda com a medida tomada pela FP Futebol e seguida da AF Braga? Ou na sua opinião dos campeonatos deveriam ser concluídos?
Na minha opinião, e vale o que vale, todos os campeonatos devem ser dados como concluídos. Devem ser atribuídas subidas e descidas aos clubes que matematicamente já tivessem a sua participação concluída.
Não existindo datas para que seja seguro voltar à normalidade, não faz sentido mais retórica à volta deste assunto.
Imaginemos o seguinte cenário mais optimista: voltamos todos a treinar em meados de Maio. Os clubes pediam no mínimo duas semanas para preparar os atletas, para prevenir lesões e nos apresentarmos minimamente em condições.
Iniciámos a competição no início de Junho. Necessitámos de dois meses para concluir o campeonato, porque não somos profissionais e não há possibilidade de fazer dois jogos por semana. Teríamos assim acabado o campeonato em final de Julho. E isto a ser tudo perfeito.
E a Taça? E se algum atleta ficasse infectado e a equipa toda tivesse de ficar em quarentena? E se ao invés de um atleta, fossem 7/8 de equipas diferentes?  Felizmente o futebol, com toda a sua complexidade, não deixa de ser só e apenas futebol.   Temos de nos preocupar em proteger-nos e aos nossos e deixar para quem tem responsabilidades que decida, porque no momento todos opinam mas ninguém será capaz de se chegar a frente se algum de trágico acontecer.

  • «Claramente beneficiados. Não podemos ser hipócritas»

O Porto d’ Ave acaba por sair beneficiado…
Claramente beneficiados. Não podemos ser hipócritas. Fomos nós e 90% dos clubes. Por um lado, que é o nosso caso e mais 7/8 equipas, que ainda íamos ter de correr e suar muito para fazer os pontos necessário para a manutenção. Depois temos o caso de mais 6/7 equipas que neste momento cumpriam praticamente calendário, pois estavam muito longe dos lugares de subida e praticamente a salvo da manutenção. Mas nalguns destes casos, também eles respiraram de alívio, pois algumas direcções já apresentavam alguns problemas de tesouraria para fazer face às despesas.
Na minha opinião, existem dois clubes mais prejudicados: o Pevidém e o Brito. Ambos com apostas claras de subida. Depois, ainda temos o Vilaverdense, que apesar de não fazer uma aposta tão forte, estava a fazer um campeonato absolutamente fantástico.

  • «Individualmente, são de longe a melhor equipa»

Na sua opinião qual a melhor equipa do campeonato?
A melhor equipa do campeonato geralmente é a que vai à frente, neste caso Pevidém. Para mim, individualmente, são de longe a melhor equipa. Agora, colectivamente, teria também de mencionar o Brito e o Vilaverdense e deixar uma menção honrosa para o Forjães.

E jogador?
Esta é uma resposta muito difícil. Seria mais fácil eleger um 11 mais forte, pois este campeonato está recheado de bons executantes, cada um nas suas funções.
No entanto, se tivesse de nomear um nome, se calhar apostaria no Venú, do Pevidém. É um médio super completo, apesar do ponto de vista, render mais como um 8  (box-to-box), a jogar por dentro, do que propriamente a jogar sobre uma linha como no Pevidém.
Mas existem muitos e posso nomear alguns: Peitaça (segurança) e Nani, ambos do Vieira (sabe tudo do jogo), o Serginho, do Joane (irreverência), o Pedrinho, Dumiense, (parece que leva cola nas botas), Totas (matador) e Vítor Hugo, ambos do Pevidém (experiência), o Barbosa, do Brito (posicionamento), o Maicon (potência), eu (leitura do jogo), o Rui Gomes, do Vilaverdense (força) e muitos mais. A lista seria extensa. Como disse vejo muita qualidade individual na Pró-Nacional

  • «O cenário na distrital poderá ser ainda mais negro»

Para ano mais uma época no Porto d’ave?
Neste momento sou jogador do Porto d’Ave e do pouco que já tive oportunidade de ir conversando com os seus responsáveis vai haver um projecto bem interessante no próximo ano. Agora, não sou bruxo ou vidente, por isso não sei responder.

O futebol vai mudar depois desta Pandemia?
Acredito que sim. Não se pode dissociar o futebol da sociedade em geral. Muitos sectores de actividade vão sofrer e muito com este vírus. Se todos os dias vemos nas notícias grandes empresas com capacidade de gerar milhões a recorrerem ao lay-off  e os administradores a ameaçar fechar  portas, no futebol não será diferente.
Muitos clubes, e agora focando o panorama dos distritais, vão “abanar” um bom bocado. Geralmente,  estes clubes sobrevivem com três tipos de apoios: camarários, de patrocínios pessoais ou empresas e de alguns eventos que vão organizando ao longo do tempo. Os subsídios camarários podem diminuir e o mesmo se aplica às pessoas ou empresas. Por isso, o cenário na distrital poderá ser ainda mais negro do que aquilo que a maioria dos responsáveis pensam que seja.