Ruca Sá está a experienciar o primeiro desafio como treinador de uma equipa sénior. O técnico aceitou o convite dos responsáveis do Dumiense SAD para substituir José Pedro Barreto. Um desafio aliciante que o treinador abraçou com toda a paixão e começa a dar frutos dada a qualidade do futebol apresentado pela equipa. Na entrevista ao Desportivo, o técnico falou da sua experiência no comando técnico do clube bracarense e do actual momento que vive o futebol distrital.
«Temos de trabalhar mais do que os outros
para combater a nossa falta de visibilidade»
Que balanço faz da sua experiência como treinador principal?
Até ao momento tem sido uma experiência riquíssima. Estar entre os melhores da nossa Associação e competir com os mesmos dá-nos a possibilidade de sermos melhores todos os dias.
Estando cá com 25 anos dá-me uma enorme vontade de continuar a trabalhar e ser também uma fonte de motivação aos treinadores mais jovens, que o sonho é possível de alcançar. Temos de trabalhar mais do que os outros para combater a nossa falta de visibilidade, mas com trabalho a oportunidade aparece e temos de estar preparados.
Não podia deixar de recordar a importância vital dos meus adjuntos, porque sem eles não estaria nesta função nem o sucesso seria possível. No futebol eles são muitas vezes esquecidos e vistos como fantasmas mas têm o mesmo grau de importância que o treinador principal.
Quais as maiores dificuldades que encontrou?
As dificuldades são sempre diferentes de contexto para contexto e é graças a elas que um treinador evolui, porque apesar da minha tenra idade, já tive a felicidade de estar em 7 clubes diferentes. Estive inserido em 14 planteis distintos, um ano como treinador adjunto nas selecções jovens da AF de Braga e uma experiência como Scout do FC do Porto, na zona de Braga, isto tudo desde 2012. Estas passagens por âmbitos distintos e com funções diferenciadas permitiram-me crescer muito como homem e como treinador.
O grupo reagiu bem à sua “promoção” a principal?
Foi de forma muito natural que tudo aconteceu. Os jogadores já nos conheciam, nós tínhamos uma ideia muito concreta do que cada um podia dar. Desde esse momento o intuito foi voltar a colocar alegria no dia-a-dia, construir um modelo de jogo atractivo no qual eles se sentissem bem e que ao mesmo tempo nos trouxesse sucesso o mais rápido possível.
Tem vantagem ser treinador dos juniores e seniores?
A única vantagem que nos dá é a capacidade de promover os juniores na equipa sénior muito facilmente. A adaptação dos mais novos é mais fácil porque os treinadores são os mesmos e na equipa sénior permite-nos compensar lesões ou faltas, mantendo assim um nível alto do treino.
Só estamos nos dois contextos porque os juniores mereceram o nosso sacrifício e da nossa parte não os poderíamos “abandonar”, pois também foram eles que nos promoveram esta oportunidade de subir de patamar e esta manutenção com eles foi a nossa forma de gratidão, porque a nossa ambição nunca pode ser maior que a nossa humildade. É com este lema que caminhamos.
- «Em termos de qualidade de jogo estou desiludido»
Que opinião tem deste campeonato da Pró-Nacional?
A Pró-Nacional é acima de tudo, muito intensa e competitiva. Em termos de qualidade de jogo estou desiludido com o futebol pouco atractivo que se pratica na generalidade, mas isto não é só culpa dos treinadores, mas também responsabilidade dos dirigentes e da pouca estabilidade que os treinadores têm no seu trabalho.
Ao exigirmos resultados, estamos claramente a sacrificar o futebol e a qualidade do jogo em si. Eu gosto de desafiar as “verdades absolutas” e acredito que é possível vencer com um futebol atractivo, é mais difícil porque arriscamos bastante para estar sempre à procura do golo, mas é essa forma de estar que me motiva, que motiva os jogadores e que traz as pessoas aos estádios. Mesmo chegando a meio e com pouco tempo para implementar uma forma de jogar, nós fomos ousados e desafiámos os jogadores e a resposta tem sido absolutamente fantástica.
Se os campeonatos regressarem é possível manter o Dumiense nesta divisão?
O nosso objectivo é jogar. A manutenção nunca foi um objectivo, nem no início do ano nem quando chegamos e pegamos na equipa com apenas um ponto acima da “linha de água”. Fruto de vários constrangimentos a equipa viu-se numa posição ingrata no campeonato e o que podíamos fazer era melhorar ao máximo essa posição e fazer uma segunda volta digna para com a qualidade dos jogadores e, essencialmente com a imagem do clube que representamos. Quando chegamos, desafiámos o plantel para a conquista da taça. É uma competição que poderá demonstrar a qualidade da nossa equipa.
- «Acreditamos na competência das pessoas que dirigem o futebol»
Acha que há condições para se retomar as provas?
Tudo irá depender do tempo de inactividade. Os clubes irão necessitar de no mínimo de três semanas de preparação para regressar à actividade, sem colocar os jogadores em risco. Queremos muito voltar a jogar porque temos muito ainda para demonstrar, mas também sabemos que a saúde está sempre em primeiro lugar.
Acreditamos na competência das pessoas que dirigem o futebol e sabemos que será tomada a melhor decisão possível, e esta, nunca será agradável para todos, é isso que temos de perceber, como percebi a situação na formação na qual a nossa equipa de juniores disputava o título e a subida de divisão e ficamos tristes, mas temos de a aceitar por muito que nos custe.
Qual a sua opinião de como deveriam ficar os campeonatos?
Tenho lido algumas opiniões e o que tenho percebido é que os treinadores têm defendido os seus interesses e opinar com o que lhes dava mais jeito. Eu para não alimentar discussões não vou tecer qualquer comentário sobre esta matéria porque não me cabe a mim e irei perceber qualquer decisão, desde que bem justificada!
- «O grupo ficou muito triste com esta paragem»
Como tem reagido o grupo a esta situação?
porque estavam motivados com o momento que atravessávamos, mas sempre colocaram a ênfase na saúde desde o primeiro dia, até porque o futebol não acaba aqui. Vivemos com o pensamento positivo e sabemos que no regresso estaremos mais unidos e ainda mais fortes.
E como tem sido o seu dia-a-dia?
Acredito que tudo o que é mau tem o seu lado positivo. O que estamos a fazer enquanto equipa técnica é prepararmo-nos ainda mais e melhor. Temos feito reuniões on-line para discutirmos sobre várias situações, temos aproveitado para ler e melhorar a nossa metodologia de treino, porque são momentos que dificilmente temos e já que estamos em casa e temos tempo temos de aproveitar para evoluir e sermos melhores a cada dia!