Não é novidade que quando se fala em futebol de formação há todo um sem número de aspectos que devem ser relevantes na procura das pessoas que desempenham determinadas funções. Nem todos os clubes ou escolas de futebol terão a mesma preocupação na escolha dos recursos humanos que mais directamente contactam com os jovens, embora se vá assistindo a maiores preocupações nesta matéria.
O Coordenador é uma das figuras cada vez mais imprescindível nos projectos de formação ao nível das Escolas ou Clubes de Futebol. Com mais ou menos qualificações, com mais ou menos experiência, com ou sem ajudas de custo, ele tem de existir, ele tem de estar.
Coordenador em Português e Coordenati em Latim (ele ou ela) deve ser a pessoa devidamente qualificada em determinada área para actuar na distribuição de tarefas, confiando-as a pessoas a ela subordinadas e capazes da execução.
Compete a ele ou ela delegar autoridade a outrem; intervir sempre que necessário, corrigindo eventuais falhas; obter recursos junto à esfera superior; avaliar e filtrar ideias que possam surgir e que possam ser úteis na execução de tais tarefas e que de alguma forma possam tornar o projecto mais viável.
É também em muitos casos “a besta negra” do processo, pois assiste-lhe tomar decisões, onde muitas delas são emanadas pelas esferas superiores. Muito do que decide choca com os ideias, emocionalidades, personalidades e caracteres de todo o universo humano que o rodeia no processo formativo.
O mediatismo do futebol apresenta-se como uma barreira muito resistente, onde vai permanecendo imune o mito de que de futebol toda gente percebe e os que percorrem anos e anos nos meandros desta actividade, os que somam a isso anos de experiência como atletas, treinadores, que investem em formação e procuram a qualificação, percebem o mesmo ou mesmo nada.
Este cargo (ou encargo) é talvez dos mais difíceis no futebol, com maior incidência de críticas, que mais tempo retira ao colaborador.
Não existem sábados, domingos e feriados e dias úteis. Existem sim dias iguais, onde o telefone não pára de tocar, os SMS não param de entrar, o correio digital, a rede social, as preocupações, os problemas surgem a qualquer momento, em qualquer horário.
A condescendência perante o erro é pouco tolerável pelos Encarregados de Educação. Estamos sempre debaixo de fogo. Somando a tudo isto, este cargo (ou encargo), divide-se com outras actividades profissionais: a vida social e familiar, e não sendo robots, estes colaboradores sofrem muito num silêncio ensurdecedor.
Em muitos momentos, estou certo que lhes apetece atirar a “toalha ao chão”, desistir e partir para outra. Normalmente a paixão que têm pela modalidade futebol é a proteína que os segura, juntando-se a adoração que têm pelas crianças e jovens.
O Coordenador deve ser portador inúmeras competências quando chamado à operacionalização e gestão do processo formativo, sendo que a liderança e o rigor têm de ser condição imprescindível, mesmo que entre em choque se torne “persona non grata”.
O bem a sacrificar deve ser superior ao bem sacrificado e após planear regulamentar e operacionalizar, deve seguir sempre o caminho que acredita, o caminho da razão em detrimento da emoção. É caso para dizer que os aspirantes a estes cargos (ou encargos), devem possuir elevados índices de imunidade e em caso de “doenças” tomar bons antibióticos, sempre na dosagem certa!
A posição do Coordenador de Futebol de Formação na estrutura de um clube ou escola, que é considerado um cargo, pode muito a médio/longo prazo transformar-se num encargo de proliferação de inimizades, antipatias e, até mesmo, de problemas familiares.