A Importância da nutrição no desporto

Todos os dias somos bombardeados com uma verdadeira imensidão de diferentes opções alimentares, seja quando, numa mercearia, super ou hipermercado, escolhemos os produtos com os quais encheremos a despensa e o frigorífico, seja quando optamos por ir comer fora de casa, tendo de eleger um restaurante. As novidades são muitas e, quase sempre, acompanhadas de publicidade irresistível.

Contudo, é essencial distinguir, de entre toda a oferta, o que é saudável e o que é prejudicial, quais os alimentos que devemos privilegiar e aqueles cujo consumo deve ser moderado ou até mesmo evitado, de forma a alcançar um estilo de vida o mais saudável possível e a evitar um autêntico manancial de doenças.

É chegada a altura de fazer opções! Colesterol elevado, problemas cardíacos, obesidade, cancro e muito stress marcam o estilo de vida atual. O facto é que os indivíduos da generalidade dos países industrializados ingerem excessivamente tudo quanto é prejudicial. A nossa alimentação é cada vez mais baseada em gorduras saturadas e açúcares simples, substâncias que implicam consequências muito graves para a saúde.

Em Portugal, afastamo-nos cada vez mais da dieta típica, rica em legumes, fruta, água e azeite – a mediterrânica. A Alimentação correta resume-se à ingestão adequada de nutrientes, de modo a permitir que a máquina, que é o corpo do ser humano, funcione o melhor possível. Tal não significa, porém, que tenha de ser cinzenta, aborrecida, inflexível, repetitiva ou sem sabor! Acima de tudo, é uma questão de bom senso, rigor e disciplina.

Sabemos hoje, que a alimentação saudável e o exercício físico são os principais determinantes da nossa saúde, capazes de impedir ou retardar o aparecimento das principais doenças que nos matam ou incapacitam. As doenças oncológicas ou cardiovasculares podem ser amplamente prevenidas pela adoção de hábitos alimentares saudáveis (nomeadamente pelo consumo diário de fruta e hortícolas), pela regulação do peso corporal e pela prática regular de exercício físico.

Esta preocupação é levada a outro nível quando transpomos para a nutrição no desporto, uma vez que, esta toma uma importância máxima não só na recuperação e preparação do organismo para a competição como também a optimização do efeito do treino como forma de potenciar os seus resultados.

Assim, com uma alimentação adequada ao tipo de desporto praticado e ao número de calorias gastas em cada treino, é possível otimizar a composição corporal, diminuir os riscos de lesão e diminuir o risco de fadiga precoce. Será, portanto, sempre necessário adequar a ingestão aos objetivos nutricionais em cada fase de treino:

  • Antes do treino é necessário maximizar os níveis de glicogénio muscular, manter níveis ótimos de glicemia, retardar a depleção muscular, prevenir a fadiga e manter o estado de hidratação;
  • Durante o treino é imperativo repor parte das perdas hidroeletrolíticas (níveis de hidratação e de electrólitos corporais (sódio, potássio, cálcio, magnésio, etc.) descompensados), manter os níveis de glicemia e retardar a chegada da fadiga;
  • Após o treino é indispensável repor os níveis de glicogénio muscular, líquidos e eletrólitos, normalizar a glicemia e promover o anabolismo e reparação muscular.

Outra das grandes premissas associada à nutrição em geral e neste caso, particularmente à nutrição no desporto, é a boa hidratação, condição necessária para um desempenho desportivo óptimo. Para além de a desidratação interferir com o desempenho do atleta, pode ainda, em casos mais graves, colocar em risco a vida do atleta. De facto, a desidratação aumenta o risco de doenças provocadas pelo calor excessivo, potencialmente fatais, como a insolação. Os atletas devem esforçar-se para se hidratarem antes, durante e após o exercício. A desidratação (perda >2% do peso corporal) pode comprometer o desempenho do exercício aeróbio, particularmente em climas quentes, e pode prejudicar o desempenho mental ou cognitivo.

Num documento recentemente lançado pelo Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável com o tema “Nutrição no Desporto”, fala-se sobre a influência da alimentação no rendimento desportivo. Destacando-se os oito principais objectivos da Nutrição Desportiva:

  1. Alcançar as necessidades energéticas e os nutrientes para suportar os treinos e as competições;
  2. Atingir e manter a massa corporal, gorda e muscular adequada à modalidade;
  3. Fornecer todos os nutrientes necessários para assegurar os processos de adaptação induzidos pelo treino e a recuperação entre sessões de treino ou competição;
  4. Consumir a quantidade de energia e hidratação necessária durante os treinos e competições para garantir os melhores resultados;
  5. Satisfazer as necessidades de nutrientes para garantir uma saúde óptima;
  6. Reduzir o risco de doença e de lesão;
  7. Tomar decisões conscientes acerca do uso de suplementos nutricionais e alimentos específicos para desportistas, cuja acção tenha sido cientificamente comprovada em termos de melhoria do rendimento desportivo e/ou para atingir as necessidades nutricionais específicas;
  8. Em desportos por categorias de peso, conseguir o peso preservando o rendimento e a saúde do atleta.

Outro dos assuntos que acarreta sempre grande relevância e preocupação para o atleta é a decisão entre consumir suplementos nutricionais ou não. Relativamente à suplementação nutricional, muitos são aqueles que estão disponíveis no mercado, mas apenas poucos têm base científica comprovada.

É fundamental adequar os suplementos ao atleta em causa, cada suplemento tem uma utilidade específica que deverá ser respeitada. O seu uso incorreto poderá ter consequências não só a nível do rendimento, mas também a nível da saúde do atleta. Por outro lado, é importante considerar as especificações de cada modalidade desportiva, de forma a adaptar o tipo de suplementação. É também fundamental ter em linha de conta os objetivos específicos de cada atleta (ganhar massa muscular, aumentar potência, aumentar o desempenho em exercícios de endurance).

É importante sublinhar que o Comité Olímpico Internacional, no seu último consenso sobre Nutrição no Desporto, refere que o uso de suplementos não compensa uma pobre escolha alimentar e uma alimentação desajustada. Mais ainda, é aconselhado que o uso destas substâncias seja desencorajado em atletas jovens. Os jovens devem, em alternativa, focar-se em consumir uma alimentação nutricionalmente rica e adaptada à sua realidade desportiva de forma a permitir o normal crescimento e adaptação do organismo ao próprio treino. Desta forma, antes de tomar qualquer suplemento é importante ter em consideração os objetivos e o estado de saúde do atleta, as exigências da modalidade, o custo-benefício do uso desse suplemento, os riscos para a saúde e performance e o possível resultado positivo num teste antidopagem.

Em suma, e porque nunca será demais referir, as recomendações relativas à alimentação e ao treino devem ser realizadas e ajustadas por profissionais competentes, de forma a haver uma adaptação às necessidades e preocupações individuais de cada atleta, quer em termos da sua saúde, quer da modalidade que pratica, das suas necessidades nutricionais individuais, das suas preferências alimentares e dos objetivos de peso corporal e composição corporal.

Margarida da Costa, Nutricionista 3857N