O famoso botânico sueco Lineu, que viveu há cerca de 250 anos, devotou toda vida ao mundo das plantas. Corria o ano de 1729 coube-lhe a ele nomear a árvore do cacau que nos dá os grãos com o qual é feito o chocolate. O nome que atribui a essa árvore foi “Theo-broma” que em latim significa “alimento divino”.
Quem não gosta de chocolate? Certamente que todos gostam! Uns mais, outros menos, porém este é, certamente, um alimento de agrado universal.
O futebol de formação tem nos seus quadros competitivos, vários tipos de “chocolate” que estabelecem diversos níveis de opções. Os quadros competitivos de nível nacional caraterizam-se como uma espécie de chocolate preto, com 90% de cacau, que todos gostam.
Por seu turno, os quadros competitivos do escalão máximo dos distritais apresentam-se numa espécie de chocolate mais acastanhado e com 50% de cacau, não sendo tão apreciado por todos.
Depois, temos as crianças e jovens, que em grande parte gostam de qualquer tipo de chocolate (com mais ou menos cacau, mais preto ou mais acastanhado), diga-se quadro competitivo, pois afinal eles gostam é de jogar futebol.
Já os adultos, normalmente, são mais seletivos e apreciam mais o chocolate negro que por analogia representam nesta história, os quadros competitivos nacionais e, por consequência, mais lhes enchem o ego.
Mas então que história é esta do chocolate e da bola?
Pois bem, é a história, que também por analogia representa a classe de adultos contemporâneos que escolhem o chocolate pelos seus filhos, que descoram a mais essencial condição prazerosa do jovem praticante de futebol, que é jogar, seja onde for, que é comer chocolate, seja de que cor for.
As minhas experiências são inúmeras na gestão e contratação de jovens atletas e ao longo dos tempos presenciei várias histórias, onde o atleta nunca se pronúncia, sendo que os progenitores a questionarem: “o meu filho vai jogar onde? Na equipa da divisão X (chocolate acastanhado), ou na equipa da Divisão Y (chocolate sem Cacau)?
Pois é disto que falo, do desinteresse por questões essenciais: Quem é, como é, e que formação tem o treinador do filho? Onde vai treinar e jogar e em que condições?
Que tipo de instalações vai ter à disposição? Que tipo de apoio de medicina desportiva disporá e que profissionais? Qual o projeto? O clube é certificado, está a tratar da certificação ou não está vocacionada para isso?
Há poucos dias falava com um amigo do futebol e fiz-lhe a questão que se impunha: “Há quantos anos geres projetos de formação de futebol e quantos atletas te passaram pelas mãos que hoje são profissionais de futebol?”. A resposta foi simples: “Há catorze anos e nenhum se tornou profissional de futebol!”.
Enquanto o “alimento divino” for a prioridade das prioridades dos adultos, em detrimento das vontades das nossas crianças e jovens, que no fundo gostam de qualquer chocolate, estaremos mesmo, que não intencionalmente, a castrar um dos maiores prazeres deles e portanto considero que devemos deixar que sejam eles, os amantes do alimento divino, a decidir qual o chocolate que querem deliciar.